O psiquiatra suiço Carl Gustav Jung (1875 – 1961) carregava em si um considerável apreço por Nietzsche e sua obra. Jung foi desenvolvendo e expandindo seu pensamento analítico através das leituras e de um diálogo com as ideias reflexivas de Nietzsche.
Jung estudou profundamente a obra de Nietzsche em seu confronto com o Inconsciente.
De acordo com a enorme influência que Nietzsche tinha sobre Jung, examinaremos algumas posições sobre o sofrimento e como o mesmo é elaborado através da Psicologia Analítica.
Partiremos nossa reflexão a partir do seguinte pensamento:
“O sofrimento não pode ser rejeitado.” (Nietzche)
Segundo Nietzsche, o sofrimento é uma espécie de fonte para o nosso crescimento, não podemos rejeitá-lo de forma alguma, devemos acolhê-lo e utilizá-lo como uma importante ferramenta de aprendizado em nossa jornada.
Conforme o pensamento proposto por Nietzsche, temos que valorizar os momentos felizes de nossa existência para fazermos o contraste com os momentos de infelicidade. Sem a noção da tristeza, não teríamos noção da felicidade. Afinal, a tristeza e a alegria são elementos opostos que se complementam.
Vejamos o que nos ensina Jung:
“A felicidade perderia seu significado se ela não fosse equilibrada pela tristeza.” (Carl Gustav Jung).
Quando o sofrimento bater à nossa porta, devemos:
- Acolhê-lo;
- Observá-lo;
- Aprender com ele.
Na maioria das vezes, quando o sofrimento nos envolve, temos a tendência de fugirmos. Na realidade, tal atitude, é uma tentativa frustrada de escapar da realidade, como nos orienta Carl Gustav Jung:
“O que não enfrentamos em nós mesmos, acabaremos encontrando como destino.” (Carl Gustav Jung).
Para Nietzsche, em vez de rejeitarmos a dor, devemos aprender com ela e assim, superá-la. Não existe caminho sem dor. Quando ela surge, seja através de alguma perda ou por algum fracasso, devemos vivenciá-la, pois a superação de um evento doloroso e não a fuga nos leva à felicidade.
Carl Gustav Jung nos deixou a seguinte reflexão:
“O sofrimento precisa ser superado, e o único meio de superá-lo é suportando-o.” (Carl Gustav Jung).
Somos os heróis de nossa existência. Temos que nos esforçar para que todas as situações que nos parecem horríveis possam produzir algo de belo e frutífero. Assim como Nietzsche, Jung acreditava que mesmo aqueles sentimentos mais inaceitáveis e negativos podem nos render belos frutos se forem bem cultivados.
Para Nietzsche, as dificuldades são um mal necessário para a nossa evolução. Ele também não admitia o perfeccionismo. De acordo com sua forma de pensar, todos nós somos imperfeitos e o reconhecimento de nossas imperfeições nos torna mais humildes e humanos.
Veja este importante ensinamento deixado pelo mestre Jung:
“A totalidade não é a perfeição, mas sim o ser completo. Pela assimilação da sombra, o homem como que assume seu corpo, o que traz para o foco da consciência toda a sua esfera animal dos instintos, bem como a psique primitiva ou arcaica, que assim não se deixam mais reprimir por meio de ficções e ilusões. E é justamente isso que faz do homem o problema difícil que ele é.” (Carl Gustav Jung).
Pessoas que são dominadas pelo perfeccionismo perdem muito tempo observando erros e culpando os outros e principalmente, a si mesmo. Na maioria das vezes, elas perdem o controle quando suas falhas são reconhecidas.
Quando assumimos as nossas imperfeições, tomamos a consciência de que precisamos nos aprimorar e isso nos garante a ideia de que o erro nos impulsiona e nos ensina. Mais importante do que a busca pela falsa perfeição é a nossa disponibilidade de buscar o nosso aprimoramento, ou seja, melhorar cada vez mais, enfrentando nossas dores, acolhendo e suportando nossos sofrimentos e nos desenvolvendo ao longo de nossa jornada para a Individuação.
Texto: Evandro Rodrigo Tropéia para o Instituto Freedom.
Psicoterapeuta
CRP: 06/143949
1 comentário
Que texto legal de ser lido, que método delicado e direto de escrita. Parabéns ao autor.