Segundo Jung (1978), a área da saúde mental na atualidade demonstra uma crescente e considerável valorização dos aspectos relacionados à religiosidade e a espiritualidade como objetos de estudo e também como recursos dentro de um processo terapêutico.
As crenças religiosas têm um papel fundamental na formação de subsídios e no processamento de informações, auxiliando muitas pessoas na organização e na compreensão de eventos dolorosos e imprevisíveis que podem gerar diversos sintomas. Conforme podemos notar no pensamento de Jung:
O que são as religiões? São sistemas psicoterapêuticos. E o que fazemos nós psicoterapeutas? Tentamos curar o sofrimento da mente humana, do espírito humano, da psique, assim como as religiões se ocupam dos mesmos problemas. (Carl Gustav Jung, 1978).
Diante disso, podemos afirmar que, assim como qualquer pessoa pode procurar a psicoterapia com base nos seus valores e crenças, a ressurreição e a reencarnação devem ser levadas em conta com seriedade pelos psicoterapeutas, que devem buscar informações adequadas em abordagens coerentes e eficazes, sem misticismo e sem práticas divinas.
Vejamos este importante apontamento do mestre Jung:
“Encaro a religião como uma atitude do espírito humano, atitude que de acordo com o emprego originário do termo: “religio”, poderíamos qualificar a modo de uma consideração e observação cuidadosas de certos fatores dinâmicos concebidos como “potências”: espíritos, demônios, deuses, leis, ideias, ideais, ou qualquer outra denominação dada pelo homem a tais fatores; dentro de seu mundo próprio a experiência ter-lhe-ia mostrado suficientemente poderosos, perigosos ou mesmo úteis, para merecerem respeitosa consideração, ou suficientemente grandes, belos e racionais, para serem piedosamente adorados e amados. (Carl Gustav Jung, 1978).
Para Melgoza (2009) a Religiosidade consiste na crença e práticas rituais de uma religião, seja na participação em um ambiente de cunho religioso ou no ato de se colocar em oração. A espiritualidade nos remete a uma relação pessoal com o objeto (Deus ou Poder Superior), o metafísico, em que a pessoa busca significados e propósitos fundamentais da vida e que pode ou não envolver a religião. A religião nada mais é do que uma organização sistemáticas de crenças, práticas e ritualísticas conectadas com o sagrado, no entanto pode envolver regras sobre condutas orientadoras da vida num grupo social e contribuir para o desenvolvimento moral que consiste na subjetividade humana. A religiosidade e espiritualidade podem afetar a saúde, reduzindo comportamentos considerados não salutares, tais como o consumo de substâncias psicoativas.
Segundo Henrik Machón (2016) o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung criticava duramente os estudiosos de seu tempo que não tinham a curuisudade de analisar e investigar os fenômenos religiosos. Jung os atacava vigorosamente em virtude da unilateralidade cultivada por tais estudiosos.
Para Machón (2016), Jung defende a ideia de que a alma é a própria inteligência, independente de tempo e espaço. Portanto, a necessidade do aprofundamento nos estudos dos mistérios da espiritualidade se tornava cada vez mais um caminho fundamental para a psicologia.
De acordo com o pensamento prposto por Carl Gustav Jung (1978) o número de faos que apóiam a existência da alma é imenso. Sem a existência da alma seria impossível a existência desses fatos que cercam a totalidade da vida humana.
Conforme os estudos aprofundados por Jung (1978) a alma necessita existir e ser profundamente investigada para que se possa chegar ao menos perto de uma melhor compreensão nos estudos que envolvem os processos psíquicos que envolvem o ser humano.
Segundo Carl Gustav Jung (1990), toda filosofia, como expressão do desejo metafísico é considerada como uma religião. A religião é comparada a uma mãe acolhedora que recebe seus filhos nos braços. Seus filhos desesperados com suas dores e angústias se refugiam na religião em busca de alívio e até mesmo a própria cura.
De acordo com os estudos de Melgoza (2009) é preciso esclarecer que a espiritualidade e a religiosidade não é igual a religião no contexto institucional. Embora a religiosidade esteja integrada a função mental, a dimensão espiritual merece um aprofundamento específico.
Para Melgoza (2009) o aspecto espiritual da humanidade, relativo ao julgamento do bem e do mal (que envolve o aspecto da moral), o belo e o feio (que envolvem o aspecto da estética) e a relação com Deus ou tudo o que transcende a alma humana, é um componente que sempre esteve presente em todas as civilizações da história.
O aprofundamento no estudo dos fenômenos da religião contribui consideravelmente para o conhecimento do universo complexo que norteia a mente humana e o seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social (MACHON, 2016).
Texto: Evandro Rodrigo Tropeia para Instituto Freedom
Referências Bibliográficas:
JUNG, C.G., Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 1990.
______ Psicologia e Religião. Obras completas de C. G. Jung, v. 11/1. Vozes, Petrópolis, 1978.
MACHON, H. O Cristianismo em Jung. Fundamentos filosóficos, premissas psicológicas e consequências para a prática terapêutica. Ed. Vozes, Petrópolis, 2016.
MELGOSA, J. Mente Positiva: Como desenvolver um estilo de vida saudável / Julian Melgosa: Tradução Lucinda dos Reis Oliveira – Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009.