Será que a Psicologia ganhou holofotes e se firmou como ciência necessária para os tempos presentes? Será que, ao passarmos pela pandemia, temas como saúde mental se tornarem mais abordados?
A sensação é que o período pandêmico passou… só que, durante ele, houve aumento de 28% em casos de depressão e 26% em ansiedade. Nesse período, por um lado os medos se manifestaram — medo do futuro e de um vazio em relação ao sentido da vida — e por outro, limitações quanto ao presente — frustração pelas experiências vividas, e o reconhecimento de quem nem tudo na vida pode ser controlado por nós… Aspectos que foram vivenciados, em diferentes níveis, no período da pandemia e também no período da II Guerra Mundial.
Viktor Frankl, médico austríaco, prisioneiro em quatro campos de concentração, viu seu pai falecer em seus braços e perdeu sua família, amigos e emprego.
Após sua libertação, precisou se reestruturar na Viena pós-guerra, apesar do seu sofrimento e do vazio que vivenciava frente a vida. Para isso, Frankl se dedicou ao trabalho, a ministrar aulas, a estar com pessoas e posteriormente, na reconstrução de sua família. Em determinado momento, uma revista estadunidense pediu que resumisse sua vida em uma frase e ele disse:
“Vi sentido da minha vida ao ajudar os outros a verem sentido em suas vidas”.
Viveu 92 anos de uma vida dedicada a esse adágio, falando e refletindo sobre o sentido da vida apesar dos sofrimentos que ela oferece.
Entre seus livros, o mais famoso é “Em Busca de Sentido”, onde relata os desafios de continuar sermos humanos, nas piores condições.
Em nos doarmos nas condições em que menos queremos doar, em abrirmo-nos às experiências de amor nessas terríveis condições, e em sofrer com a cabeça erguida quando não parece valer a pena sequer viver.
Encerramos o mês de agosto celebrando os 60 anos da Psicologia no Brasil e iniciamos setembro lembrando dos 25 anos que vivemos esse legado de uma Psicologia a serviço dos outros, que Frankl nos ensinou.
Na pandemia, como nos campos de concentração, vivemos a ilusão de que a vida parou.
Mas não, ela continuou. Fomos nós que precisamos dar um tempo para refletirmos sobre o nosso papel no mundo.
E enquanto nós perguntávamos “Qual o sentido disso que está acontecendo?” “Será que conseguiremos superar isso?” “Tem algo a aprendermos com isso?”, nossa ansiedade, depressão e tantas outras coisas aumentaram. E foi aí que o profissional da Psicologia veio nos auxiliar a “ver um sentido”, não nos dando a resposta, mas como oftalmologista aguçando nossa visão interior, nos fazendo enxergar possibilidades que a vida oferece. E aí, pudemos ter a oportunidade de perceber que estávamos errados. Quem nos fazia as perguntas era a vida e “todo nosso ser nada mais é que um responder”, como diria Frankl, “um responder e responsabilizar-se pela vida”.
Se a pandemia está acabando ou não, é outra coisa. Agora, o que importa é se temos a clareza de respondermos, coletivamente, às questões que a vida nos coloca. Não vivemos isolados, então, as respostas só podem ser descobertas no diálogo, no amor, na camaradagem. Por isso, somos todos responsáveis pelas respostas e as respostas só são verdadeiras se forem doações amorosas e de cabeça erguida ao serviço do coletivo.
Texto: dos psicólogos e logoterapeutas Clarissa Davico (CRP 05/50968) e Sam Cyrous (CRP 09/8178)