É na prática que podemos observar a expressão arquetípica na vida do sujeito.
Sim, é comum ouvirmos o termo “arquétipo” no meio junguiano. Ocupa grande importância e popularidade, mas você sabia que para sabermos que um arquétipo está constelado precisamos verificar isso na vida do indivíduo, na experiência, nas emoções?
Para nos referirmos ao arquétipo como expressão em uma interpretação, é necessário que haja uma conexão entre a imagem que aparece e a emoção que acontece para aquele indivíduo. Para ser uma expressão arquetípica é necessário que a emoção esteja presente na experiência.
Segundo Jung (2016, p.122)
…a maneira pela qual os arquétipos aparecem na experiência prática: são ao mesmo tempo imagem e emoção; e só podemos nos referir a arquétipos quando esses dois aspectos se apresentam simultaneamente. Quando existe apenas a imagem, ela equivale a uma descrição de pouca importância. Mas quando carregada de emoção, a imagem ganha numinosidade (ou energia psíquica) e torna-se dinâmica, acarretando várias consequências.
O pragmatismo existente na psicologia analítica aponta para que a experiência confirme ou dê a direção das interpretações. As expressões arquetípicas são vistas na vida, vão muito além de imagens desprovidas de experiência. Não é possível vê-las somente de forma universal, é fundamental para a interpretação o contexto de vida que a pessoa vivencia.
Sei que é difícil apreender esse conceito, já que estou tentando descrever com palavras uma coisa que, por natureza, não permite definição precisa. Mas como muitas pessoas pretendem tratar os arquétipos como se fossem parte de um sistema mecânico, que se pode aprender de cor, é importante esclarecer que não são simples nomes ou conceitos filosóficos. São porções da própria vida – imagens integralmente ligadas ao individuo através de uma verdadeira ponte de emoções. Por isso é impossível dar a qualquer arquétipo uma interpretação arbitrária (ou universal); ele precisa ser explicado de acordo com as condições totais de vida daquele determinado individuo a quem o arquétipo se relaciona. Assim, no caso de um cristão devoto, o símbolo da cruz só deve ser interpretado no seu contexto cristão – a não ser que o sonho forneça uma razão muito forte para que se busque outra orientação. E, mesmo nesse caso, deve-se ter em mente o sentido cristão específico. Evidentemente, não se pode dizer que, em qualquer tempo ou circunstancia, o símbolo da cruz terá a mesma significação. Se fosse assim, perderia sua numinosidade e vitalidade para ser apenas uma simples palavra (JUNG, 2016, p 122).
Para interpretar a presença do arquétipo na vida do indivíduo, é preciso ter sensibilidade para sintonizar-se com o assunto em questão e não apenas reparar no conjunto de conceitos mitológicos que podem aparecer, é preciso enxergar a conexão, não a pura intelectualidade sem discriminação alguma, mas sim no significado para aquela pessoa.
As palavras tornam-se fúteis quando não se sabe o que representam, e isso se aplica especificamente à psicologia, onde se fala tanto de arquétipos como a anima e o animus, o homem sábio, a Mãe Grande etc. Pode se saber tudo a respeito de santos, sábios, de profetas, de todos os homens-deuses e de todas as mães-deusas adoradas mundo afora. Mas se são meras imagens, cujo poder numinoso nunca experimentamos, será o mesmo que se falar como num sonho, pois não se sabe do que se fala. As próprias palavras que usamos serão vazias e destituídas de valor. Elas só ganham sentido e vida quando se tenta levar em conta a sua numinosidade – isto é, a sua relação com o indivíduo vivo. Apenas então começa-se a compreender que todos aqueles nomes significam muito pouco – tudo o que importa é a maneira como estão relacionados conosco (JUNG, 2016, p 122).
Referências bibliográficas
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. Org. Carl Gustav Jung. Trad. Maria Lúcia Pinho – 3. Ed. – Rio de Janeiro: HarperColins Brasil, 2016
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347