O conceito de Projeção, na concepção de Carl Gustav Jung (1875-1961) é o processo espontâneo em que os conteúdos do inconsciente de alguém são percebidos e direcionados para outras pessoas ou objetos.
Carl Gustav Jung, em sua obra “Natureza da Psique”, no parágrafo 507, nos deixa o seguinte direcionamento:
Todos os conteúdos de nosso inconsciente são constantemente projetados em nosso meio ambiente, e só na medida em que reconhecemos certas peculiaridades de nossos objetos como projeções, como imagines [imagens], é que conseguimos diferenciá-los dos atributos reais desses objetos. Mas se não estamos conscientes do caráter projetivo da qualidade do objeto, não temos outra saída senão acreditar, piamente, que esta qualidade pertence realmente ao objeto.
Podemos afirmar, então, que nossas projeções não são produzidas no campo da consciência e isto muitas vezes podem se configurar em figuras imaginárias que não são correspondentes com a realidade do mundo externo.
Da mesma forma que nos inclinamos a supor que o mundo é tal como o vemos, com igual ingenuidade supomos que os homens são tais como os figuramos. Infelizmente ainda não existe, aqui, uma Física que nos mostre a discrepância entre a percepção e a realidade. (Carl Gustav Jung; A natureza da psique – parágrafo 507).
Em sua obra, “AION: Estudos sobre o simbolismo de Si Mesmo”, no parágrafo 17, Jung nos aponta que não se cria a projeção: ela já existe de antemão. A consequência da projeção é um isolamento do sujeito em relação ao mundo exterior, pois em vez de uma relação real o que existe é uma relação ilusória. As projeções transformam o mundo externo na concepção própria, mas desconhecida. Por isso, no fundo, as projeções levam a um estado de autoerotismo ou autismo, em que se sonha com um mundo cuja realidade é inatingível.
A partir do pensamento proposto por Jung, a projeção se torna um mecanismo para podermos lidar com a ansiedade e também lidar com todos os contextos psicológicos que são inaceitáveis. Esse mecanismo pode se desenvolver de forma saudável, mas também existe a possibilidade desse mecanismo se desenvolver de maneira doentia e desequilibrada. Segundo Carl Gustav Jung, a projeção é positiva ao facilitar as relações do indivíduo com o mundo externo.
Por isto, enquanto o interesse vital, a libido, puder utilizar estas projeções como pontes agradáveis e úteis, ligando o sujeito com o mundo, tais projeções constituem facilitações positivas para a vida. (Carl Gustav Jung; A natureza da psique – parágrafo 507).
Na visão da psicanálise, desenvolvida por Sigmund Freud, a projeção é mecanismo de defesa da psique. Um mecanismo de defesa é uma estratégia que pessoas podem usar, mesmo sem perceber que estão fazendo isso a fim de proteger-se de coisas que realmente não querem lidar ou pensar. Ela alivia os sentimentos de ansiedade ou culpa associados a pensamentos dolorosos ou indesejáveis.
Na Psicologia Analítica, o psicoterapeuta deve trabalhar o conceito da projeção em seus pacientes, a fim de ajudá-los a aprender, a compreender e a reconhecer quando estão usando esse mecanismo de defesa. Depois que o paciente reconhece o mecanismo, pode se tornar mais capaz de enfrentar os seus sentimentos de frente, confrontar e dominar a sombra, e também lidar com eles ao invés de projetá-los em outra pessoa. Isto levará a relações mais positivas e funcionais.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
CRP: 06/143949