No presente artigo, quero compartilhar com os caros leitores e leitoras, algumas considerações sobre Afrodite e sua relação com o contexto da Anima na psique masculina.
Conforme os estudos realizados por Manfred Luker (2003), no universo da Mitologia, Afrodite é a deusa grega do amor, da beleza e da sexualidade, sendo considerada a mais bela e a mais irresistível de todas as deusas gregas. No campo religioso, com o crescimento do cristianismo, Afrodite foi personificada pela imagem da Virgem Maria, passando a figura da “mãe” a ter uma conotação destituída de carne e osso e de sexualidade.
A história de Afrodite
De acordo com a Teogonia de Hesíodo, ela nasceu quando Cronos cortou os órgãos genitais de Urano e arremessou-os no mar; da espuma surgida ergueu-se Afrodite. Ela seria uma divindade obviamente importada do Oriente, uma forma grega da deusa semítica da fecundidade e das águas fertilizantes, Astarté.
O amante divino Adônis, de Afrodite, nos leva igualmente à Ásia, uma vez que Adônis é mera transposição do babilônico Tammuz, o favorito de Ishtar-Astarté, de que os Gregos modelaram sua Afrodite.
Algumas obras, tais como a Ilíada, Afrodite seria filha de Zeus e Dione e levaria o título de Dionéia.
Na psicologia Arquetípica, Afrodite, é considerada o símbolo da Grande Mãe.
A deusa nos dias de hoje
A deusa Afrodite nos revela, em suas características, a mulher que escolhe com quem se relacionar, da mulher que conhece e aceita o seu desejo, sua sexualidade e que não se deixa dominar. Ou seja, ela é a mulher que aceita seu corpo como ele é, e se sente confortável com ele. Por este motivo, trata-se, então, de um arquétipo difícil em uma sociedade patriarcal
Nos dias atuais esse aspecto de Afrodite está desvirtuado. Isso porque as mulheres se encontram alienadas em relação a seu corpo. A mídia profana a beleza da mulher, impondo um ideal de beleza inacessível, onde as curvas tipicamente femininas são substituídas por corpos esqueléticos, mutilados por silicone e cirurgias plásticas.
O Arquétipo da deusa Afrodite nos remete a personificação do amor, da beleza, da atração erótica, da sensualidade, da sexualidade e da vida nova. É a “química” entre os amantes, o desejo irresistível e inexplicável.
Manifestação do arquétipo
Conforme os estudos de Jung, Anima é o Arquétipo que constitui o lado feminino da psique masculina. A primeira projeção da Anima sempre é feita na mãe. Com o passar do tempo o indivíduo começa a projetar a Anima nas mulheres que lhe provocam sentimentos que podem ser positivos ou negativos.
A paixão nos move, nos transforma e nos impulsiona a buscar sempre algo a mais. A integração da Sombra com Anima/Animus representa o relacionamento que se torna muito significativo em nossa vida que filtramos uma grande parte de percepção da nossa realidade, seja interna ou externa, por meio da experiência.
De acordo com o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) a relação com a anima é outro teste de coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Segundo o próprio Jung Se o confronto com a sombra é a obra do aprendiz, o confronto com a anima é a obra prima.
A deusa e os relacionamentos
Afrodite é símbolo da intensidade dos relacionamentos, mas não necessariamente da permanência. É o Arquétipo da intimidade física não apenas no sentido sexual, representando uma necessidade psicológica e espiritual.
Arquétipo, portanto, da paixão por alguém ou algo, gerando um processo criativo na psique, do qual pode emergir algo novo. Amor desligado da beleza do corpo, mas da beleza da alma, levando a criação do legado que cada indivíduo irá deixar no mundo.
Os amantes de Afrodite
Afrodite teve diversos amantes, tanto deuses como Ares, Dioniso e Hermes, quanto mortais como Anquises. No entanto, foi casada apenas uma vez, com o deus Hefesto, o qual ela traia com Ares, o deus da guerra.
A deusa também foi de importância crucial para a lenda de Eros e Psique. E o estopim para o desencadeamento da guerra de Tróia.
Foi descrita, em relatos posteriores, como amante de Adônis e também como sua mãe adotiva. Enéias, Hermafrodito e Priapo também são seus filhos.
Sendo uma deusa tipicamente oriental, nunca se encaixou bem no mito grego: parecia uma estranha no ninho!
Por essa razão é tida como deusa alquímica, diferentemente das outras deusas que podem divididas em dois grupos: as virgens (Artemis, Atena e Héstia) e as vulneráveis (Hera, Deméter e Perséfone). Afrodite, então, é ao mesmo tempo vulnerável (devido ao fato de ter tido relacionamentos) e virgem (pois nunca se deixou ludibriar, nem dominar por ninguém, prezando sua autonomia), e também não é nenhuma delas.
Texto escrito por: Evandro Tropeia
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- G. Jung. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. Ed. Vozes. Pág 38
- Manfred Luker . Dicionário de Simbologia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 2003