O tema que estou propondo no presente artigo nunca esteve tão em evidência como nos tempos atuais. Vamos falar um pouco sobre o exercício da religiosidade no sentido patológico.
Segundo Jung, tal como a energia física, a energia psíquica também é encaminhada e transformada, isto é, a energia psíquica é canalizada para algo pelo qual damos um intenso valor, como por exemplo, as pessoas que amamos e fazem parte de nossas vidas, nossos trabalhos, nossos lazeres, bem como as doutrinas que são aprendidas e vivenciadas dentro de uma instituição religiosa.
Para Jung este valor nos remete a medida da quantidade de energia consagrada a um elemento psíquico particular. Portanto, através de uma má canalização energética surge o desequilíbrio, desencadeando assim, problemas de intensa gravidade psíquica e religiosa, tais como a intolerância religiosa entre denominações espirituais e também com os demais grupos sociais, o valor unilateral que gera uma espécie de egoísmo salvífico, ou seja, ouvimos expressões do tipo: “Somente minha religião nos garante a salvação!”
Estas consequências afetam de maneira considerável, o ser humano em todos os contextos dimensionais, principalmente no desenvolvimento moral e social, pois o desequilíbrio oriundo de uma má canalização energética quebra por si só toda forma de moralidade e como consequência surge o comprometimento imediato do desenvolvimento do ser humano enquanto ser social.
A religião desequilibrada tem um intenso poder prejudicial na vida de qualquer pessoa, pois quando não há uma boa dosagem de equilíbrio, a mente humana se perde em um imenso vale obscuro, gerando assim uma espécie de venda, que chamamos em termos religiosos de “cegueira espiritual”, criando na vida humana barreiras ocultas que vão crescendo à medida que o desequilíbrio aumenta sua intensidade.
Esta barreira , segundo Jung, toda unilateralidade impede o desenvolvimento pessoal, social e moral da psique humana, pois a mente neste estado passa por um momento de sequestro do eu.
Dentro do que chamamos aqui de sequestro do eu, o objeto amado, no caso, a religião toma a posição do sequestrador que tem o domínio e o controle total da situação no cativeiro simbólico, enquanto que, o sequestrado é o ego fragilizado, debilitado em sua totalidade por conta dessa perda extremamente dolorosa da liberdade.
É a doentia relação existente entre Dominador e Dominado, onde o “outro” mantém o controle total do funcionamento psíquico do ego completamente empobrecido.
Ao se afastar de sua subjetividade e tudo o que ela representa, o sujeito sente-se excluído e privado de ser ele mesmo e passa a viver categoricamente em função do objeto amado.
O sequestro da subjetividade humana, que se origina da religião desequilibrada é comparado a um cárcere. Existem cárceres que vão muito mais além de paredes e celas. São prisões que não são concretas, são invisíveis aos olhos humanos e, portanto não há nada concretamente a ser quebrado.
Este sequestro consiste em tudo aquilo que nos priva de nós mesmos, onde corremos o extremo risco de abrir mão de nossos próprios valores e projetamos toda nossa disposição e totalidade de ser pessoa no “outro”.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
CRP: 06/143949