Vivemos um momento que parece uma verdadeira utopia, ter um relacionamento afetivo, isso parece existir somente em estórias dos contos de fadas e na imaginação dos poetas.
Isso se deve a ignorância quase que generalizada da existência da mente inconsciente e seu funcionamento.
Na teoria do ‘Processo de Individuação” de C.G.Jung, para considerar o homem pleno em sua potencialidade, há de ele conseguir a indivisibilidade entre a mente consciente e inconsciente e também a harmonia entre as energias masculinas e femininas internas e externas, pois a energia da contra sexualidade, denominadas por Jung como anima no homem e animus na mulher, são os parceiros invisíveis inconsciente que determinam nossa busca pelo parceiro nos relacionamentos.
Conforme escreve Jung no livro “O Eu e o Inconsciente” – parece inverossímil como o homem não tem a consciência e o domínio de sua mente nos dias atuais.
Pois bem, diz o pequeno texto: “A mulher tomada pelo animus corre sempre o risco de perder sua feminilidade, sua persona adequadamente feminina.
O homem, em iguais circunstâncias, arrisca afeminar-se. Tais transformações psíquicas do sexo explicam-se pelo fato de que uma função interior – animus ou anima – se volta para fora.
O motivo desta perversão é, naturalmente, a insuficiências ou o desconhecimento total do mundo interior, que se ergue, autônomo, em oposição ao mundo exterior; as exigências de adaptação ao mundo interior igualam às do mundo exterior”.
Com relação ao mundo exterior, isto é, nossa vida lógica, a personalidade, procuramos nos adaptar cumprindo nossos papéis perante o mundo.
No entanto no que se refere ao mundo interno, ou seja, o inconsciente, nos colocamos passivamente, ou pior que isso construímos “sentenças” que nos impede de compreendê-lo.
A possessão de animus ou anima sobre a personalidade se dá pelo fato desse desconhecimento, então estes arquétipos procuram experenciar a vida a partir da personalidade.
As consequências dessa possessão diferenciam no homem e na mulher enquanto na mulher, animus se caracteriza por uma opinião, muitas vezes impessoal, vinda do inconsciente, o que faz com que a mulher perca sua feminilidade natural; no homem, anima provoca uma espécie de instabilidade emocional, infantilizando-o e tornando-o, muitas vezes inconveniente, além dos comportamentos machistas que, por si só, representam uma necessidade de afirmação do masculino.
A tendência natural desses arquétipos, tanto no homem quanto na mulher, sempre que são desconsiderados, é inviabilizar as relações.
Ocorre nesse caso uma repetição dos modelos projetados, sempre na busca de algo que está faltando internamente e que cada parceiro espera que o outro irá suprir.
Como não existe consciência da existência e atuação desses arquétipos vindo do inconsciente, as necessidades de ambos os parceiros nunca são atendidas, gerando daí o rompimento do relacionamento ou mesmo a continuação deste numa baixa qualidade de vida.
Em alguns casos outros atores são admitidos o que gera muita angústia e luta.
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Os filhos criados dentro dessas crises conjugais, levam para sua vida particular a experiência negativa da união dos pais e sempre são marcados pelo resto da vida por esses desafetos.
As emoções destrutivas da afetividade sempre geram doenças psicossomática, às vezes agressivas.
O Livro “A Doença como Caminho” de Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke, destacam as crises e doenças renais como sendo originárias de experiências de relacionamentos destrutivos, por ser os rins órgãos duplos que trabalham alternadamente.
Dizem ele: “O objetivo ideal de uma união é proporcionar a duas pessoas condições para se tornarem cada qual seu próprio todo ou, ao menos – se formos bastantes idealistas -, para se tornarem mais perfeitas por terem iluminado os aspectos inconscientes da própria alma e por terem integrado esses aspectos em sua consciência. Esse objetivo não é alcançado pelo par de pombinhos apaixonados que insistem em “não poder viver um sem o outro”. Uma tal afirmação revela apenas que as pessoas envolvidas estão usando uma à outra por pura conveniência (poderíamos também dizer, por pura covardia), para viver a sua sombra, sem tentar elaborar as próprias projeções ou ao menos recebe-las de volta. Nesses casos (e eles são a maioria!) Um parceiro não permite o desenvolvimento do outro por que isso levantaria questionamentos acerca do papel que ambos desempenham. Se algum deles, depois, vier a se submeter a uma psicoterapia, o outro por certo se queixará das mudanças ocorridas… (Afinal, apenas queriam que o sintoma desaparecesse!).
Desse texto se depreende quando há necessidade de um dos parceiros no relacionamento, um jogo de poder se estabelece, fazendo com que o amor não floresça.
A verdade é que os relacionamentos íntimos nunca podem ser melhores do que o nosso relacionamento com nós mesmo, nisto se explica a necessidade de conhecimento de nosso inconsciente a fim de tratarmos de nossas necessidades para que não sejam projetadas na outra pessoa.
Todos os relacionamentos são indicativos do estado de nossa vida interior que foi marcada pelo desejo dos outros sobre nós.
Quando descobrimos as projeções e sua origem, somos forçados a reconhecer que nos enganamos ao esperarmos que o outro possa nos socorrer.
Esta é a parte dolorosa, mas necessária, para assumirmos nossa própria vida.
Quando as projeções se despersonalizam, podemos descobrir que temos de cuidar nós mesmo. Este é início do autoconhecimento.
Para que tenhamos um relacionamento maduro precisamos ser capazes de assumir nossas próprias necessidades sem projetá-las no parceiro, pois ninguém pode me dar o que eu quero e preciso, assim agindo posso valorizar e receber o que o outro tem a oferecer, companheirismo, apoio mútuo, cumplicidade, etc.
Nossa mente se torna plurativa numa falsa tentativa de nos defender, dessa forma nos tornamos consumidores de toda espécie de informação e entretenimento que a mídia generosamente no oferece.
Abraçamos essas “ofertas”, sem perceber que elas nos alienam.
Nossa meta deve ser paralisar o tráfego da mente, o agrupamento neurótico que alaga e distrai.
Se medo de ficar sozinhos, medo do silêncio, nunca poderemos estar presentes em nós mesmos.
A auto alienação é em grande parte a condição do mundo moderno e só pode ser mudada pela ação individual.
Muitas vezes observo pessoas, num ritual que já pratiquei muito saindo dali em estado de ressaca, se reunindo em bares e restaurantes em companhia de uma música de qualidade duvidosa, ingerindo bebidas e comidas prejudiciais à saúde para aquela hora, numa gritaria para ser ouvido acima da música.
Essa é a fuga mais comum praticada pela maioria.
Precisamos separar uma parcela de tempo de cada dia, pequena que seja, para nos encontrarmos com nós mesmos, seguir um ritual para nos libertarmos dos tráfegos de dentro e de fora de nós.
Quando o silêncio fala, conquistamos nossa própria companhia, saímos da solidão e conquistamos a nossa solitude, um pré-requisito necessário a individuação.
A individuação não tem nada a ver com o eufemismo egoísta, mas é a conquista da liberdade plena que nos possibilita viver em dois mundos: o mundo dos nossos papeis sociais e o mundo interno e individual na mansão de nossas almas, onde panas nós mesmo podemos entrar.
Texto: Osmar Santos