O grande ensinamento da Psicologia Analítica Junguiana está amparado no conceito de totalidade. Não somos seres perfeitos, porém somos seres em busca da totalidade. A totalidade implica no equilíbrio entre o bem e o mal, a luz e a sombra presente dentro de cada um de nós.
Devemos estar sempre em sintonia com a dualidade presente em nós e buscar o equilíbrio necessário dos opostos de nossa psique.
Quando o indivíduo traz em si um desequilíbrio, a sombra se aproveita dessa fragilidade. Um grande exemplo que pode ser citado é de um alcoolista compulsivo que com o tempo consegue vencer seu hábito e dominar o vício. A partir do momento em que o mesmo se encontra “curado”, os motivos que desencadearam o vício são forçados a recolher-se para o inconsciente, aguardando uma oportunidade para se expressar. O sujeito então, ao se deparar com uma situação traumática e conflituosa com a qual ele não pode lidar, a Sombra se manifesta com extrema força, originando dessa forma aquilo que denominamos recaída.
Segundo Flora Bonunga (2008), não há bem que não possa ser um mal, nem mal que não possa se transformar num bem. São Francisco de Assis também que ninguém é tão mal que não possa se regenerar e ninguém é tão bom que não possa se corromper.
Verena Kast (2019), nos aponta que o conceito de sombra parte de um princípio de que os seres humanos gostam de revelar somente aquilo que há de melhor e mais belo. Tudo isso no intuito de satisfazer o nosso ideal de ego.
De acordo com Flora Bonunga (2008) o principal objetivo da Psicologia Analítica é a integração dos opostos. O bem e o mal fazem parte de uma única essência. Cada pessoa deve desenvolver a capacidade de entender que não há solução para os problemas se continuarmos reprimindo o mal ou o bem, pois de qualquer maneira o lado que for negado se levantará mais cedo ou mais tarde com fúria avassaladora.
Conforme os estudos de Flora Bonunga (2008) a brutalidade do reprimido reagirá com uma força tamanha a ponto de conseguir dominar o espaço total ocupado pela outra parte.
Hall e Nordby (2003) afirmam que o Arquétipo Sombra consiste no lado obscuro da Psique, onde estão contidos nossos instintos primitivos. É a origem de tudo aquilo que há de melhor e pior na raça humana.
Quando a pessoa consegue suprimir o aspecto animal de seu estado natural, ela pode se tornar “civilizada”, mas esta repressão só pode ser executada através das capacidades motivadoras da espontaneidade, da criatividade, das emoções e das intuições.
Para que o sujeito seja inserido na comunidade, é necessário que ele passe pelo processo de domesticação com relação aos ímpetos contidos na sombra.
Podemos afirmar que uma vida privada de sua sombra se transforma numa vida sem brilho. Não há como fugir de sua sombra. O aspecto sombrio presente em nós é algo que incomoda muito, porém é necessário compreender que ele carrega em si uma importância fundamental.
De acordo com Hall e Nordby (2003), a Sombra é um Arquétipo de muito valor, pois ela detém a capacidade de reter e afirmar idéias ou imagens que trazem vantagens para a vida do indivíduo.
Segundo o pensamento de Carl G. Jung (1875 -1961), dentro de cada um de nós há um outro que não conhecemos.
Todo o ser humano tem seu lado obscuro. Se tudo correr bem é melhor nem conhecer. Nós precisamos entender melhor a natureza humana, porque o único perigo real é o próprio homem.
A partir desse pensamento quero propor aqui o raciocínio de que a vida é um ciclo de energia onde eu mesmo sou o equilíbrio entre o medo e a coragem, a pergunta e a resposta, a alegria e a tristeza, a luz e a sombra. Somente pelo equilíbrio entre as grandes extremidades será possível compreender a Fé e a Razão.
Equilíbrio é saber até onde posso chegar e até onde vai o meu limite. Equilibrar-se implica em autoconhecimento.
Torna-se expressamente impossível alcançar o ponto de equilíbrio sem passar pela estrada do conhecimento de si mesmo.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
CRP: 06/143949
Referências Bibliográficas:
BONUNGA, Flora. Procura-se Jung. Metáfora da busca do humano no humano. Ed. Paulus. 2008
HALL, C.S; Nordby, V.J. Introdução à Psicologia Junguiana. Ed. Cultrix, SP, 2003.
KAST, Verena. Jung e a Psicologia Profunda. Um guia de Orientação prática. Ed. Cultrix. 2019.