A Reforma Psiquiátrica no Brasil iniciou-se na década dos anos 70, em um contexto de crise do modelo assistencial de saúde. Essa reforma buscava instaurar novos modelos de atenção e gestão nas práticas de saúde (Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental, 2005). Então, nomes como o de Nise da Silveira são importantes para pensarmos a luta antimanicomial no Brasil e promoção da saúde mental pela Arteterapia.
Movimento Antimanicomial e a Reforma Psiquiátrica no Brasil:
O processo da Reforma se opunha à atenção hospitalocêntrica e ao modelo manicomial, “caracterizados por baixa qualidade de cuidados e ocorrência frequente de violações dos direitos humanos” (ALMEIDA, 2019, p.2).
A reforma psiquiátrica brasileira começa a ser incentivada pelo Movimento Nacional da Luta Antimanicomial, conformado por trabalhadores da área da saúde, familiares e usuários dos serviços, que decidiram lutar e buscar alternativas de intervenção, diferente as torturas e métodos de isolamento até então presentes nos hospitais psiquiátricos. (PEREIRA; FIRMINIO, 2010)
As reformas inicialmente buscavam a melhoria das condições de vida nas instituições psiquiátricas e ao mesmo tempo, a promoção de um processo de desinstitucionalização. (ALMEIDA, 2019)
Por isso, na perspectiva normativa, essa nova proposta de modelo psiquiátrico foi consolidada com a sanção da lei da reforma psiquiátrica nº 10.216/2001. Essa Lei prevê a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, redirecionando o modelo assistencial em saúde mental.
Um olhar ampliado do ser humano, como um ser biopsicossocial, a necessidade de um atendimento transdisciplinar emerge nesse contexto, dando espaço a uma clínica e a práticas terapêuticas diversas capazes de acompanhar a sujeitos em sofrimento mental, pois são práticas que vão ao encontro da Arteterapia, entre outras. (VALLADARES: FUSSI, 2003)
Arteterapia e Nise da Silveira:
É interessante situar que antes desses movimentos da Reforma Psiquiátrica, psiquiatras como a Dra. Nise da Silveira, resistiam a tratamentos agressivos como a lobotomia e o eletrochoque, buscando formas mais humanas de tratamento e valorização do ser humano. A Nise da Silveira buscava entender o que acontecia no mundo interno dos sujeitos em sofrimento mental, principalmente na esquizofrenia, buscando formas de cuidado que pudessem penetrar a subjetividade. E, portanto, foi nesse processo que a Nise encontrou na arte um caminho de expressão das subjetividades. (PEREIRA; FIRMINIO, 2010)
Desde esse novo paradigma da saúde mental que começa a ser gestado, a Arteterapia emerge como uma forma de tratamento mais humano e criativo que é capaz de contribuir com a saúde mental de sujeitos em sofrimento psíquico. Dando a possibilidade de expressão livre dos sentimentos e pensamentos que não podem ser expressos de forma verbal, mas sim mediante imagens, cores e sensações.
Promoção da Saúde Mental pela arteterapia:
Em suma, a Arteterapia constitui-se como um campo de atuação na área da saúde mental como prática que promove modos de subjetivação, através da expressão artística e criativa, em um contexto seguro, afetuoso e de valorização do ser humano.
A saúde mental é um campo onde a Arteterapia apresenta múltiplas possibilidades de exercício cabe a nós, arteterapeutas, encontrar nossos diálogos e explorar as potencialidades. De modo a contribuir com uma outra forma de pensar a saúde mental e as formas de intervenção das práticas de saúde.
Texto por Eliana Campagna | Arteterapeuta – Instituto Freedom | Registro na AATESP: N° 701/0920.