Na psicologia analítica sempre nos deparamos com a existência dos opostos, eles estão sempre presentes. Quando falamos de um lado, devemos considerar seu lado oposto e vice-versa. A concepção de um ponto central da personalidade também leva em consideração essa realidade conflituosa, permeada pelos opostos, em que a vida se dá. “O si-mesmo pode ser caracterizado como uma espécie de compensação do conflito entre o interior e o exterior” (JUNG, 2008, p. 14).
O si-mesmo, seria também um resultado, um fim à ser atingido paulatinamente através de um esforço contínuo, representando o objetivo da vida. O si-mesmo expressa ao mesmo tempo o indivíduo singular e a coletividade, perfazendo a combinação de ambos e complementando um ao outro, compondo um símbolo de totalidade (JUNG, 2008).
O si-mesmo contém o eu, sendo que o eu é o que mais conhecemos conscientemente. O si-mesmo é de natureza desconhecida e transcendente pelo qual um dos meios de acesso é o sentir.
Sentindo o si-mesmo como algo de irracional e indefinível, em relação ao qual o eu não se opõe nem se submete, mas simplesmente se liga, girando por assim dizer em torno dele como a terra em torno do sol – chegamos à meta da individuação. Uso a palavra “sentir” para caracterizar o modo aperceptivo da relação entre o eu e o si-mesmo. Nada se pode conhecer nesta relação, uma vez que nada podemos afirmar acerca dos conteúdos do si-mesmo. O eu é o único dentre os conteúdos do si-mesmo que conhecemos. O eu individuado sente-se como o objeto de um sujeito desconhecido e de ordem superior. Parece-me que as indagações psicológicas chegam aqui ao seu limite extremo, pois a ideia do si-mesmo é em si e por si um postulado transcendente que pode ser justificado psicologicamente, mas não demonstrado de um modo cientifico. O passo além da ciência representou uma necessidade absoluta do desenvolvimento psicológico que aqui tentei descrever; sem este postulado, eu não poderia formular de modo adequado os processos que ocorrem empiricamente. Por isso mesmo, o si-mesmo pode pretender pelo menos ter o valor de uma hipótese, análoga à estrutura dos átomos. E mesmo que estejamos mais uma vez envolvidos numa imagem, trata-se de algo poderosamente vivo, cuja interpretação ultrapassa minhas possibilidades. Não duvido em absoluto que se trata de uma imagem, mas é uma imagem na qual estamos incluídos (JUNG, 2008, p. 114).
Em tempos difíceis somos colocados à prova, entre conflitos e opostos que se apresentam com intensidade, dentro e fora de cada um de nós. As dificuldades sempre contém a semente da transformação. Mas é preciso se colocar no caminho também pela aplicação da vontade, em busca da compreensão dos símbolos que se constelam na psique, buscando essa totalidade.
Referência Bibliográfica
JUNG, Carl G. O Eu e o Inconsciente. Coleção Obra Completa de C. G. Jung. Vol. 7/2. Trad. Dora Ferreira da Silva. 21 ed. – Petrópolis: Vozes, 2008.
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347