Segundo a psicologia analítica desenvolvida por Carl Gustav Jung (1875-1961), dos 35 aos 50 anos de idade, chegamos à fase do desenvolvimento humano denominada meia-idade ou meio da vida. Esse período é marcado por profundas transformações psicológicas e existenciais, levando o indivíduo a um processo chamado metanóia.
De acordo com Murray Stein (2007), presidente da Associação Internacional de Psicologia Analítica, essa etapa representa o “enterro das seguranças e da identidade perdida”. Mudanças de humor, crises existenciais, luto, ataques de pânico e negação são sintomas comuns dessa fase.
A metanóia como impulso do Self para a individuação
Stein (2007) explica que o meio da vida é um momento em que o Self tenta assumir o controle da psique, dando início ao processo de individuação. Esse período, embora esperado, frequentemente surge de maneira abrupta, desconcertando o indivíduo e exigindo um reexame profundo da própria existência.
A psicologia analítica interpreta esse processo como um chamado do inconsciente. Se ignorado, pode se manifestar por meio de sintomas psicossomáticos graves, como AVCs, infartos e transtornos emocionais. Esse fenômeno é descrito como o “demônio do meio-dia”.
A importância da psicoterapia na metanóia
A psicoterapia junguiana desempenha um papel fundamental nesse processo. A chegada da meia-idade exige uma revisão profunda das vivências passadas, levando a um balanço existencial. Esse período é acompanhado por sintomas depressivos e uma sensação de perda de sentido.
Murray Stein (2007) destaca que, nessa fase, o indivíduo enfrenta a diminuição da disposição física e emocional. A juventude fica para trás, e a consciência de sua finitude torna-se mais evidente. Esse momento de transição, conhecido como metanóia, pode ser compreendido como uma expansão da consciência – um convite para transcender crenças limitantes e reformular a visão de mundo.
Metanóia e o retorno ao “primeiro amor”
A principal tarefa da análise junguiana durante a metanóia é conduzir o indivíduo ao encontro de sua essência. Isso envolve resgatar aspectos negligenciados da própria identidade, revisitá-los e integrá-los à jornada de individuação.
Esse retorno ao “primeiro amor”, representa a reconexão com valores autênticos que foram deixados de lado ao longo da vida. É um convite para revisitar a própria história e encontrar sentido na transição para uma nova fase da existência.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
Psicoterapeuta – CRP: 06/143949