Estamos atravessando um momento vivido coletivamente, em decorrência dessa pandemia. É inegável que isso está impactando o mundo todo, com mais ou menos força, dependendo do contexto do país, da região, da situação econômica, educacional, da saúde, das condições psicológicas, entre tantos fatores.
Em momentos como esse que envolvem crises e incertezas, ficam evidentes emoções, sentimentos, pensamentos, sonhos que se intensificam, muitas vezes trazendo o pior ou o melhor do ser humano.
É possível encontrar dentro da Psicologia Analítica alguns temas, conceitos, ideias que ajudam a entrar em contato, de forma mais consciente, com esses conteúdos.
Um dos conceitos importantes para se conhecer num momento como esse é a sombra. A sombra representa uma parte inconsciente do indivíduo, seriam algumas qualidades desconhecidas ou pouco conhecidas pelo ego. Essa parte seria carregada de atributos que geralmente não são bem aceitos moralmente ou socialmente. Características vistas de forma negativa como egoísmo, preguiça, desleixo, algumas fantasias, inveja, tramas, indiferença, avareza, impulsividade (JUNG, 2016).
Os conteúdos sombrios podem estar mais evidentes em decorrência dessa crise, influenciados pela situação da pandemia. Citando, por exemplo, a realidade de que muitos estão tendo que ficar em casa, que fazer coisas que não gostariam, ou até de conviver mais que o habitualmente com seus familiares. Em situações como essa, é inevitável que os conflitos acabem surgindo.
“O grande perigo, quando se ignora o mal, é que passamos a vê-lo, sobretudo, nos outros…” (FRANZ, 2018, p. 14).
É possível distinguir a aparição de elementos da sombra, por exemplo, quando alguém conhecido te critica sobre algo e essa critica o faz sentir uma raiva intensa. Ou quando características de outra pessoa o perturbam exageradamente, sem que essa tenha feito algo realmente contra você. Seriam aquelas características mal vistas que podem ser atribuídas à outras pessoas através da projeção.
Marie-Louise von Franz faz essa relação da sombra com o mecanismo de projeção (2018, p. 14)
Há alguns sintomas (que surgem) quando as pessoas estão inseguras, quando elas ficam fanáticas, quando exageram, quando têm emoções e afetos exagerados. Esses são os sintomas que nos levam a dizer: “Por que o senhor Fulano de Tal me irrita mais do que o normal? Pode ser que ele não seja simpático, mas não preciso perturbar-me desse modo”. Se fico agitado demais sem que ele nada me tenha feito, não há razão alguma para estar tão furioso, então, isso é uma projeção, então aquilo que me irrita nele está em mim, é alguma coisa de mim mesmo que vejo nele. E sempre se vê que, se a pessoa reconhece isso, se ela se recolhe numa meditação e vê, com muita vergonha, que aquela é uma qualidade dela mesma, então o senhor Fulano de Tal exterior logo fica normalizado e as relações são harmonizadas.
Importante vivenciar esse momento como uma oportunidade para o autoconhecimento, para estar presente e crescer como ser humano.
Referência Bibliográfica
FRANZ, Marie-Louise von. A Busca do Sentido: entrevistas radiofônicas. Coleção Amor e Psique.Trad. Nancy Donnabella, Inácio Cunha – São Paulo: Paulus, 2018.
JUNG, Carl G. O Homem e seus Símbolos. Trad. Maria Lúcia Pinho – 3 ed. – Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2016.
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347