…Uma religiosidade autêntica é o melhor remédio para todos os sofrimentos psíquicos. O difícil é transmitir às pessoas um conceito de religiosidade autêntica.
(C. G. Jung. Cartas. Volume 1. Página 133. Ano 133)
Segundo Carl Gustav Jung (1990), a religião constitui uma das expressões mais antigas e universais da alma humana, subentende-se que todo tipo de Psicologia que se ocupa da estrutura psicológica da personalidade deve pelo menos constatar que, a religião, além de ser um fenômeno histórico-social, é também assunto de extrema importância para grande número de pessoas.
A religião exerce grande influência na dimensão psicológica, deixando de ser apenas um apanhado de regras, um conjunto de mandamentos e leis, mensagens de otimismo, esperanças e princípios eternos que ligam supostamente o ser humano a Deus ou a um ser superior, para ser um instrumento de grande valor para a formação do indivíduo enquanto ser “social” (SABBAG, 2006).
A partir das ideias de Carl Gustav Jung (1978), podemos concluir que dessa forma, a Fé – o ato de crer em alguém ou algo – não se baseia apenas somente no sentido espiritual, onde o objetivo da religião é proporcionar a “salvação” para a alma, mas também nos desenvolvimentos do humano enquanto ser social, moral, físico e mental.
Jung (1978), afirma que não existe experiência possível sem uma consideração reflexiva, pois esta experiência constitui um processo de assimilação, sem o qual não há compreensão alguma, ou seja, a experiência é o fruto do processo de reflexão.
A religião é considerada por Carl Gustav Jung uma função psicológica cujo objetivo principal é compreender a relação do ego com o self, que pode ser comparada com a relação entre o humano e o divino (Homem e Deus) (SILVEIRA, 1981).
As inúmeras descobertas científicas têm contribuído e muito para o homem no contexto dos seus avanços medicinais, psicológicos, histórico, morais e legislativos, por outro lado, é necessário a busca constante pelo equilíbrio e pela compreensão analítica das evoluções para que não ocorra uma perigosa unilateralidade no caminho do conhecimento de si mesmo e da sociedade de maneira geral.
Carl G. Jung (1978) nos apresenta uma memorável definição sobre os aspectos científicos em sua obra “Estudos Alquímicos” com relação à unilateralidade:
[…] De fato, a ciência não é um instrumento perfeito, que só causa dano quando é como um fim em si mesmo. A ciência deve servir, ela erra somente quando pretende usurpar o trono. (p. 80).
Segundo Jung (1990), a ciência consiste na modalidade de compreensão, ou seja, ela é uma via de condução do conhecimento humano e só obscurece a vista quando reivindica para si o privilégio de ser a única forma de compreender todas as coisas, ocasionando assim o pensamento unilateral, isto é, uma via de mão única.
Assim, também a religião não deve ser uma via de mão única no que diz respeito ao desenvolvimento moral de cada ser humano. A partir do pensamento de Jung (1990), podemos observar que toda prática religiosa conduzida de forma unilateral pela pessoa, gera em si um intenso desequilíbrio que se origina de canalização de energia mal elaborada.
A princípio a ideia de Ciência e Espiritualidade nos propõe um pensamento de extrema oposição, onde uma não completaria a outra de forma alguma, por conta de inúmeras divergências. Essa concepção de forte oposição cai por terra explicitamente a partir dos estudos de Jung (1990), que se apoiou nos elementos da alquimia para a elaboração de muitos dos seus conceitos.
Sobre as questões dos opostos e das barbáries negativas da unilateralidade, o autor nos mostra um importante apontamento:
Os opostos se equilibram na mesma balança – Sinal de Cultura. Ainda que representem uma força propulsora, a unilateralidade é sinal de barbárie. (JUNG, 1990, p. 38).
Jung (1978) nos orienta para a ideia de que a Ciência e a Espiritualidade, mesmo sendo concepções opostas devem caminhar juntas na busca de uma compreensão mais ampla desse universo misterioso e extremamente complexo chamado ser humano.
A partir dos apontamentos propostos, concluímos a importância do equilíbrio em nossas vidas. Uma religiosidade praticada com uma boa dose de equilíbrio é muito benéfica para o desenvolvimento do ser humano e para o bem estar físico e mental.
Evandro Rodrigo Tropéia/ Instituto Freedom
Psicoterapeuta. CRP: 06/143949
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
G. Jung. Cartas. Volume 1. Página 133. Ano 133
JUNG, C.G., Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 1990.
Psicologia e Religião. Obras completas de C. G. Jung, v. 11/1. Vozes, Petrópolis, 1978.
SABBAG, D.C. Dicionário Bíblico. Um guia de estudos e entendimento do livro dos livros, Difusão Cultural do Livro, São Paulo, 2006.
SILVEIRA, N. Jung: vida e obra / Nise da Silveira – 7- ed.– Rio de Janeiro Paz e Terra, 1981.