“O espírito esboça, mas é o coração que modela.”
Auguste Rodin
Desde os primórdios da humanidade, o homem cultivou o ato de modelar. Produzia utensílios que lhe facilitavam a existência como vasos, pratos, potes entre outros ou reproduziam formas e animais que davam vazão à criatividade e à imaginação.
No ateliê arteterapeuta, o uso da argila ou do barro favorece o contato com o primitivo e os elementos que o integram ( fogo, ar, água e terra). Ao manipular esse material, o cliente entra em contato com a água, ao ter de umedecer o barro para que ele se torne maleável; tem de empregar o calor da mãos para molda- lo; utilizar o ar para secar a produção de maneira harmônica; e, principalmente, entrar em contato com a história da terra, senti-la entre suas mãos, concretizar, com a ajuda dela, a expressão, a forma, o sentimento que lhe falam na alma.
A modelagem em argila poderá ser utilizada para construir objetos utilitários ou abstratos e, dependendo do quadro clínico, que estiver sendo acompanhado, poderá ser utilizado apenas para propiciar experiências de volume e materiais mais concretos, pois a argila mobiliza intensas e ativas conexões arquetípicas, e seu manuseio pode despertar energias ancestrais, extremamente mobilizadoras. Assim, demanda cuidados e atenção para ser inserida no percurso arteterapêutico. PHILIPPINI,2009, p.72)
Importante atentar para o alerta que Philippini faz sobre o uso da argila durante as sessões de Arteterapia. Nunca é demais frisar que o arteterapeuta tem de estar atento ao processo de seu cliente ao sugerir a argila, pois ela suscita experiências na tridimensionalidade, intermediou a aproximação do inconsciente em que conteúdos do passado e do presente se plasmam e desencadeia respostas afetivas de maneira muito rápida. Além disso, a manipulação desse material pode provocar tanto reações de rejeição e desconforto como de alívio e prazer ao atendido.
A manipulação deste material provoca no sujeito diversas posturas desde a mais profunda rejeição, dada a questões regredidas que o material aponta, ligadas aos aspectos referentes às sujeiras internalizadas, adquiridas tanto pela dimensão cultural como àquelas resultantes de experiências pessoais tidas como inaceitáveis, não adequadas, desprezíveis, insuportáveis e odiosas. Como pode, ao contrário, provocar estados de profundo alívio e prazer pela possibilidade de exteriorizar sentimentos, quando por permitir o manuseio de uma matéria tão próxima às nossas raízes simbólicas: pois pela Bíblia o homem foi criado do barro: Deus fez do homem a sua imagem e semelhança. (URRUTIGARAY,2004.p.63)
Maria da Graça Alves Cardoso
Registro na AATESP: 731/012
Bibliografia
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e Materiais em Arteterapia: Uso, Indicações, Propriedades. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2009.
SEI, Maíra Bonafé. Arteterapia e Psicanálise. São Paulo: Zagodoni Editora,2011.
SEIXAS, Larissa Martins in Diálogos criativos entre Arteterapia e a Psicologia Junguiana. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2012.
URRUTIGARAY. Maria Cristina. Arteterapia – A Transformação Pessoal pelas imagens. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2004.
https://citacoes.in/autores/auguste-rodin/. Auguste Rodin citado em “Citações da Cultura Universal” – Página 119, de Alberto J. G. Villamarín, Editora AGE Ltda, ISBN 8574970891, 978857497089. Visto em 19/04/2021.