Ao amor pertencem a profundidade e a fidelidade do sentimento, sem os quais o amor não é amor, mas somente humor. (C.G. Jung, 2005)
O amor para ser amor necessita ser profundo e fiel. Se não for profundo e nem fiel, ele não passa de uma maldosa brincadeira.
Amar é uma viagem misteriosa onde cada um encontra o outro, e por trás do outro, encontra-se a si mesmo. Falar sobre o amor é confrontar com o inexplicável e dar voz ao mundo imaginário de nossos próprios fantasmas.
Segundo o membro da Associação Italiana de Psicologia Analítica, Aldo Carotenuto (1994), todo discurso referente ao amor se torna o discurso sobre si mesmo, sendo assim, a confissão mais íntima.
Para Carotenuto (1994), a adesão imediata ao objeto amado é um dos fenômenos característicos da experiência amorosa. Somos intensamente cativados pela presença e pela proximidade do outro. Quando estamos diante do amado experimentamos um sentimento incrível de plenitude. A presença do outro se torna uma fonte de bem-estar e inúmeras possibilidades.
O amor vive e se alimenta do que acontece em nós, daquilo que carregamos em nosso interior. A interioridade que menciono se refere ao próprio desejo que carregamos em nós.
De acordo com Aldo Carotenuto (1994), quando nos apaixonamos por alguém, o estado de enamoramento nos coloca sempre diante de algo incompreensível. Podemos definir que o amor é uma busca pela verdade interior que pertence a mim mesmo. Assim, na experiência amorosa somos iluminados por significados físicos e psicológicos. O universo daqueles que se amam é aberrante e inexplicável.
Conforme o apontamento de Carl Gustav Jung (2005) o amor se configura na forma de Eros, sendo um sentimento profundo que provoca o confronto com o nosso próprio ego. A partir da experiência do amor nós amadurecemos e ampliamos o campo da nossa consciência.
Aldo Carotenuto (1994) afirma que o amor também se caracteriza por uma alteração da nossa relação com a realidade. Para o autor, estar alterado significa que a forma psíquica na qual carregávamos perdeu a sua função em determinado momento. Tal fato nos remete a pensar que o amor nos sugere transformações físicas e psicológicas, sendo este movimento de mudança praticamente inevitável.
Sabemos também que na experiência do amor o elemento mais forte deste movimento psíquico é a projeção. Projetamos no outro aquilo que idealizamos e carregamos dentro de nós mesmos.
De acordo com Carotenuto (1994), o maior erro que podemos cometer é pensar que o outro nos seduziu, na verdade eu fui seduzido por minhas próprias imagens que o outro foi capaz de evocar.
Através de tudo o que nos foi proposto até aqui podemos supor que o que eu amo, de fato, jamais será completamente meu. O amor verdadeiro é aquele que nutre e liberta, ao passo que o falso amor é aquele que suga e sequestra.
Conforme os estudos propostos pelo professor Renato Dias Martino (2013), o conceito do amor é o mais respeitável de todos os conceitos dentro da ordem das reflexões. Somente através do amor é que poderá surgir qualquer esperança.
Só podemos nos tornar verdadeiramente seres humanos a partir do momento que somos nutridos pelo afeto contido na experiência amorosa. Aprendemos o que é o amor quando entramos em contato com o outro. Através do contato com o amado, posso também encontrar a mim mesmo.
O amor em si é a fonte geradora, criadora de todas as coisas. Portanto, todo amor verdadeiro profundo é um sacrifício, movido pela entrega. O próprio Carl Gustav Jung nos deixa uma profunda reflexão:
“O amor custa caro e nunca deveríamos tentar torná-lo barato. Nossas más qualidades, nosso egoísmo, nossa covardia, nossa ambição, tudo isso quer persuadir-nos a não levarmos a sério o amor. Mas o amor só nos recompensará se o levarmos a sério.” (Carl Gustav Jung, 2005)
Diante da ideia que nos foi proposta por Jung (2005), é possível ponderar que o amor em sua totalidade deve ser levado a sério. Quando levamos o amor a sério, consequentemente seremos recompensados por essa força tão inexplicável capaz de gerar e mover todas as coisas.
Em um relacionamento amoroso é importante permitir que o outro participe da maneira dele. Somos livres, no entanto, não possuímos as pessoas. Temos apenas amor por elas e nada mais.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
Psicoterapeuta
CRP: 06/143949
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Carotenuto, Aldo. Eros e Pathos: Amor e Sofrimento. Ed. Paulus. 1994
C. G. Jung. Sobre o Amor. Ed. Ideias & Letras. 2005
Renato Dias Martino. O amor e a Expansão do Pensar. Ed. Vitrine Literária. 2013