As experiências com o numinoso têm relação com as vivências que envolvem o contato com o inconsciente pessoal e também coletivo. Elas podem ser feitas por meio de atividades artísticas, danças, experiências religiosas e místicas e qualquer outro tipo de ação que evoque o contato com os símbolos de maneira profunda e intensa. São experiências onde o individuo se sente conectado com algo maior do que ele mesmo e com um tempo que transcende o aqui e agora.
Para Jung, a experiência com o numinoso ocupa posição central dentro do processo de individuação.
Mas é importante organizar as coisas e falarmos sobre as diferenças entre o processo de individuação psicológica e o caminho de contato e desenvolvimento espiritual.
A experiência com o numinoso, independente de interpretações ou significados, traz um sentido ao indivíduo. Ela possibilita uma conexão com o atemporal, o especial, o eterno. São momentos diferenciados em que o indivíduo se sente conectado com algo além dele mesmo.
Comparando um pouco sobre a diferença entre a individuação e o caminho espiritual, podemos, por exemplo, pensar em alguns tipos de distúrbios e patologias. Estes, se vistos com certo viés religioso, voltado apenas às experiências místicas, podem ser vistos como algo trivial, que a religiosidade se sobrepuja, fazendo com que o próprio sintoma do distúrbio (como alcoolismo, distúrbios alimentares etc.) sirva como “um estimulo para se prosseguir na busca espiritual, ou como uma porta paradoxal para a transcendência, e essa interpretação pode dar sentido à doença ou à própria falha de caráter” (STEIN, 2020, p 42).
É bem comum e provável que a presença de uma patologia seja uma necessidade para que o indivíduo se motive em busca de uma jornada espiritual. Porém, com um olhar um pouco mais apurado e perspicaz é possível compreender que não é somente a experiência espiritual que trará uma elaboração ou até mesmo a cura para uma pessoa. No máximo pode ser um remédio de cunho temporário até que o sintoma se manifeste novamente, ou de outras formas (STEIN, 2020).
Segundo Stein (2020, p. 43)
“Empreender buscas espirituais e ter experiências numinosas podem ser momentos importantes para a individuação, mas, por si sós, não são suficientes para estabelecer, quanto mais completar, um processo de individuação, embora possam criar uma mudança profunda de atitude e de personalidade.”
Para Jung essa experiência com o numinoso é uma demonstração de como na psique existem outras forças atuantes, muito maiores do que o próprio indivíduo acredita existir ou controlar.
As pessoas que costumam enxergar a diferença entre esses dois processos (individuação x caminho espiritual) são normalmente as que buscam o processo de análise, a psicoterapia, pois elas entendem que apenas buscar orientação espiritual, religiosa não é suficiente, embora possa fazer parte.
Referência Bibliográfica
STEIN, Murray. Jung e o caminho da individuação: uma introdução concisa. Trad. Euclides Luiz Calloni – São Paulo: Cultrix, 2020
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/9734700