00Quando pensamos em desenvolvimento do indivíduo e processo de individuação, pensamos em Persona também.
Jung desenvolveu esse conceito onde Persona seria essa máscara social que se forma através de uma relação do indivíduo com a coletividade. O ego vai se identificando com algumas características e vai integrando esses comportamentos na persona, com o objetivo de se adaptar ao mundo (STEIN, 2020).
E por mais que haja algo de individual na persona, na realidade ela é uma máscara coletiva da psique. Ela aparenta uma certa individualidade, mas se trata de um papel onde quem se expressa é a psique coletiva (JUNG, 2008).
Segundo Jung (2008, p. 134)
No fundo a persona nada tem de “real”. Ela é um compromisso entre o indivíduo e a sociedade acerca daquilo que “alguém parece ser”: nome, título, função e isto ou aquilo. De certo modo tais dados são reais; mas, em relação à individualidade essencial da pessoa, representam algo de secundário, apenas uma imagem de compromisso na qual os outros podem ter uma quota maior do que a do indivíduo em questão.”
A persona imita uma individualidade, e ela pode ser um obstáculo à individuação caso o indivíduo não se conscientize da função dela como máscara (STEIN, 2020).
Quando alguém se torna um bom cidadão, um filho ou uma filha dedicados, um membro devotado da igreja, da escola e do Estado, um empregado de confiança, um marido ou esposa, pai ou mãe, um profissional ético, as pessoas sentem que podem confiar nessa pessoa e desse modo dedicar-lhe seus mais elevados sentimentos de estima. Pessoas assim falam com clareza pela família, pela comunidade, pelo país e mesmo por toda humanidade, mas não por elas mesmas. Se indivíduos que adotaram personas leais e firmes assim permanecem inconscientes de sua verdadeira individualidade, essa individualidade mantém-se desconhecida, e eles se tornam porta-vozes para as atitudes coletivas com as quais se identificam. Embora isso possa servir aos interesses de uma pessoa até certo ponto – porque, afinal de contas, todos precisam se adaptar à sociedade e à cultura, e porque uma persona bem construída é uma vantagem evidente para propósitos práticos de sobrevivência e sucesso social -, esse não é, sem dúvida nenhuma, o objetivo da individuação. Trata-se apenas de um ponto de parada para então iniciar o processo de individuação […] De modo compreensível, as pessoas são tentadas a se deter nesse ponto, pois não é nada fácil criar uma persona agradável, cortês e eficiente. Dando por concluída a tarefa de desenvolvimento psicológico, depois de obter uma identidade social e de estabelecer um adequado padrão de vida em tempo e lugar determinados, por que não relaxar e saborear os frutos dos próprios esforços? (STEIN, 2020, p.26)
Mas a individuação é necessariamente um processo rumo à diferenciação dessa psique coletiva. Trata-se de uma força que se sobrepuja às outras, e caso o indivíduo não escolher trilhá-la por escolha consciente, haverão consequências que serão impostas no caminho. Segundo Stein (2020, p. 26), Jung caracteriza “esse tipo de conflito como uma fonte típica de neurose e infelicidade na segunda metade da vida”.
Portanto não perca tempo, aprofunde seu conhecimento em Jung e comprometa-se com sua análise, ou inicie seu processo.
Referência Bibliográfica
JUNG, Carl G. O Eu e o Inconsciente. Coleção Obra Completa de C. G. Jung. Vol. 7/2. Trad. Dora Ferreira da Silva. 21 ed. – Petrópolis: Vozes, 2008.
STEIN, Murray. Jung e o caminho da individuação: uma introdução concisa. Trad. Euclides Luiz Calloni – São Paulo: Cultrix, 2020
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347