A Arteterapia na perspectiva junguiana leva em conta os conceitos dessa abordagem no uso de técnicas artísticas como ferramentas provedoras de saúde mental. A abordagem junguiana é uma abordagem que abre possibilidades para a compreensão e para o despertar do potencial criativo das pessoas.
A arteterapia de abordagem junguiana
Emoções, conflitos internos, sentimentos, fantasias, podem ser pintados, desenhados, esculpidos, ganhando vida por meio de cores, imagens e movimentos. A partir do momento em que uma pessoa dá forma a um conteúdo interno, seja ele consciente ou inconsciente, está se expressando e trazendo à tona o conteúdo latente da psique.
Nesse processo, a imaginação pode e deve estar presente, pois, conforme a psicologia analítica, ela é fundamental e inerente à todas as pessoas. Além disso, diante de uma dificuldade de verbalização ou elaboração de aspectos psicológicos, as técnicas artísticas tornam o tratamento terapêutico mais efetivo, como afirmou Jung (1958/2006, p. 15. par. 168, itálico do autor):
“Pode-se expressar o distúrbio emocional, não intelectualmente, mas conferindo-lhe uma forma visível. Os pacientes que tenham talento para a pintura ou o desenho podem expressar seus afetos por meio de imagens. Importa menos uma descrição tecnicamente ou esteticamente satisfatória, do que deixar campo livre à fantasia, e que tudo se faça do melhor modo possível. (…) Aqui também se tem um produto que foi influenciado tanto pela consciência como pelo inconsciente, produto que corporifica o anseio de luz, por parte do inconsciente, e de substância, por parte da consciência”.
Tal afirmação de Jung (1875-1961) demonstra a importância da expressão artística para elaboração do sofrimento psíquico. Entretanto, ao contrário do que o autor diz, não é necessário qualquer talento para a pintura ou desenho. Na arteterapia, saber técnicas é o que menos importa, assim como, o aspecto estético. O foco da arteterapia é a expressão do sujeito.
Aspectos da teoria junguiana
O inconsciente é formado por uma camada mais profunda, herdada e comum entre todos os humanos, o chamado inconsciente coletivo. Trata-se de uma instância que guarda todas as “memórias” e imagens arquetípicas que só são manifestadas no contato mais profundo com o inconsciente, ou seja, por meio dos sonhos, da imaginação ativa, da arte e das fantasias. Por outro lado, o inconsciente pessoal, como o nome sugere, é formado por memórias e experiências do indivíduo, sendo particular a ele.
É preciso destacar também o papel do ego e da consciência na psique. O ego está em contato com o inconsciente pessoal e a consciência, que é a instância que conhecemos. A consciência é aquela “voz” que diz de primeira “eu não sei desenhar!”.
A Arteterapia e os canais de comunicação:
Essa breve explanação é importante para entendermos o papel dos recursos artísticos no contexto terapêutico. Os materiais e técnicas artísticas funcionam como “canais de comunicação” entre o ego o inconsciente, uma vez que, facilitam o contato com os aspectos que não foram elaborados pela consciência, colaborando para a compreensão das emoções, para a busca de soluções de conflitos internos e externos e para a estruturação da própria personalidade, promovendo equilíbrio e bem-estar. (PHILIPPINI, 1995).
Assim como os sonhos, as produções feitas no contexto arteterapêutico formam registros dos movimentos da psique. Quando colocadas em sequência, tais produções revelam o processo psíquico e seu direcionamento, assim como, permitem compreender quais elementos se repetiram ou tomaram outras formas.
Nas palavras de Furth (2004, p. 47): “Quando as figuras emergem do inconsciente, elas carregam uma enorme quantidade de informação psíquica. Por meio da figura podemos acompanhar a jornada da psique e saber onde ela se encontra no momento em que o desenho foi feito.”
Arteterapia e a mente humana
Por meio de técnicas artísticas, o material inconsciente encontra o caminho para se manifestar de forma simbólica. Os símbolos possibilitam acessar o conflito originado na psique, deixando fluir a energia psíquica que gera a tensão na consciência e, dessa forma, permitem uma melhor elaboração dos estados conflituosos. (FURTH, 2004)
Portanto, as técnicas da arteterapia, orientadas por profissionais da área, contribuem para a melhora da saúde mental, promovem o autoconhecimento e ajudam o indivíduo a ressignificar suas relações intra e interpessoais. O processo criativo é capaz de alcançar camadas do inconsciente que a expressão verbal, muitas vezes, não acessa, pois esta exige uma elaboração prévia da consciência que tende a direcionar o conteúdo a ser trabalho em outras abordagens psicoterapêuticas.
Texto escrito por: Adriana Leopold, psicóloga junguiana e arteterapeuta (CRP: 06/96436 | AATESP: 203/0611).
Referências
FURTH, G. M. Premissas – no que se “baseia” a arte terapia. In: O Mundo Secreto dos Desenhos: uma abordagem junguiana da cura pela arte. São Paulo: Paulus, 2004. p. 48 – 66
PHILIPPINI, A. Universo Junguiano e Arteterapia. Revista Imagens da Transformação. Vol. II. Rio de Janeiro: Clínica Pomar, 1995. Disponível em: https://www.arteterapia.org.br/pdfs/univers.pdf. Acesso em 13 set. 2023
JUNG, Carl G. A função transcendente (1958). In: JUNG, Carl. G. A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2006. pp. 1-23.