A utilização dos contos na Arteterapia traz muitos benefícios pelo valor terapêutico. Primeiramente porque representam em suas narrativas fenômenos universais, tendo como fonte o inconsciente coletivo que vai facilitar o autoconhecimento e a jornada para a individuação. Além disso, os contos ativam o imaginário, favorecem a criatividade, a comunicação oral e promovem uma interação lúdica. Segundo Phillipini (2018, p.118), “os contos apresentam-se com matéria-prima similar à que constitui os conteúdos oníricos presentes nos sonhos, e funcionam também como fonte de sabedoria, comunicação e entendimento do mundo incomensurável do inconsciente”. A estrutura arquetípica dos contos proporciona a movimentação e a transformação da energia psíquica do ouvinte que, de acordo com a sua subjetividade e imaginação vai retirar apenas o que necessita do que a história revela de forma coletiva universal arquetípica (PHILIPPINI, 2018).
Para Giordano (2020, p.49), “ouvir uma história é aceitar o convite para um passeio pelo próprio mundo interno, mas também pelo mundo de quem narra. Há uma cumplicidade entre narrador e ouvinte”. Como a narrativa oral é uma arte, ela também tem seus segredos e técnicas: o contador deve selecionar o conto de acordo com os seus objetivos e conhecê-lo detalhadamente antes de narrá-lo.
Os contos de fadas narram episódios de uma história imaginária, mas revelam muito a respeito da natureza humana. De acordo com Bettelheim (2018, p.16) “ao contrário do que acontece em muitas histórias infantis modernas, nos contos de fadas o mal é tão onipresente quanto a virtude”. Isso contribui para que a criança perceba que há uma diferença entre as pessoas e que elas escolhem como querem ser. Os contos de fadas retratam as angústias e dilemas existenciais como o amor à vida, a necessidade de ser amado e o medo da morte, favorecendo que a criança entenda, tanto na sua mente consciente quanto na inconsciente que, no futuro, ela precisará abandonar os desejos de dependência infantil e alcançar a independência durante a vida. Importante ressaltar que à criança não se deve tirar o encantamento da história, querendo explicar-lhe o porquê do encantamento dos contos, já que a história pode ajudá-la a lutar por si mesma e a dominar o problema que, em princípio, tornou a história significativa para ela (BETTELHEIM, 2018).
Os contos de fadas também continuam fascinando os adolescentes e adultos, colaborando com reflexões acerca do momento atual de vida para que, se possível, encontrem soluções de mudanças externas e internas.
Fátima Mattiolo
Registro na AATESP: 513/0719
Referências Bibliográficas
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. 36.ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2018.
GIORDANO, Alessandra. Contos que curam: a tradição oral como fonte de trabalhos arteterapêuticos. Rio de Janeiro: Wak, 2020.
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e materiais expressivos em arteterapia: uso, indicações e propriedades. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2018.
SANTESSO, Wilma Antonia Nubiato. Técnicas de oficinas expressivas: a arte como forma de ressignificação. São Paulo: edição do autor, 2015.