No decorrer do presente artigo pretendo abordar um pouco sobre a jornada do herói através da análise psicológica do conto chinês “Mulan” produzido pela Disney.
Na concepção da Psicologia Analítica proposta por Carl Gustav Jung (1875-1961), os contos possuem um valor e um significado individual. Os contos que contamos, ouvimos e assistimos são recriados em nossa própria vida.
Os contos carregam em si um poder curativo e integrativo que nos leva à busca do sentido da vida, a evolução psíquica e nos auxiliam no processo de autoconhecimento e individuação.
Carl Gustav Jung (2000) nos revela que o Conceito de Individuação não desempenha um papel minoritário em nossa psique. A individuação nos remete a um processo de formação e particularização da essência individual.
Os contos são ferramentas fundamentais no processo de descoberta de nossa verdadeira essência, carregando em si uma função que nos leva ao que chamamos de despertar da consciência. Através dos contos também somos levados ao mergulho nas camadas mais profundas da psique e tornamos conscientes alguns aspectos fundamentais que estavam imersos em nosso inconsciente pessoal e coletivo.
O conto chinês “Mulan” nos retrata a história de uma jovem chinesa que enfrenta certa crise de identidade que se origina do desejo de honrar e orgulhar o nome de sua família. Com o objetivo de salvar seu pai doente de servir o exército do império, a jovem se vê obrigada a tomar uma atitude de coragem. Através de uma destemida decisão, Mulan se disfarça de homem para se infiltrar no exercido imperial e lutar contra os invasores do norte da China.
Mulan nos deixa um belo e importante ensinamento que nos cabe uma reflexão para vida. Os quatro pilares da virtude. Simbolicamente o número 4 nos remete ao conceito de equilíbrio e totalidade.
O conto nos revela a existência de quatro pilares que nos levam à virtude. De acordo com o dicionário online de língua portuguesa, a virtude é a característica daquilo que é considerado correto, aceitável ou esperado por uma religião, pela moral, pela ética, etc.
Os quatro pilares da virtude são:
- Lealdade;
- Coragem;
- Verdade;
- Devoção.
Quatro características que envolveram a jovem Mulan, e que a conduziram à vitória, a superação das barreiras que a jornada nos impõe e principalmente, a superação dos limites do próprio eu.
A lealdade consiste na consideração à honra, à decência e a honestidade. Característica de quem hora seus compromissos com retidão e responsabilidade. Mulan permaneceu leal à sua jornada e honrou seu compromisso até o fim.
A coragem nos remete ao ato de bravura, postura firme diante dos perigos. É a capacidade de enfrentar algo árduo e doloroso, porém necessário. A jovem Mulan assumiu a coragem e enfrentou seus medos, assumindo a figura arquetípica do Animus, despertando a força dentro de si e o equilíbrio do próprio ser.
A verdade nada mais é do que a sinceridade para consigo mesmo e para com o outro. Mulan assumiu a verdade dentro de si e seguiu firme em sua jornada. A jovem entrou em confronto com a sua própria realidade e encontrou com a sua própria Sombra, despertando a sua verdadeira essência.
E, por fim, a devoção que consiste na afeição, na dedicação, amor ou afeto demonstrado por ela mesma e pelas pessoas que estavam em seu redor nesta importante missão de vida e dignidade.
Outro grande ensinamento que o conto chinês nos revela é a máxima de que o nosso maior ato de heroísmo consiste em sermos apenas a nós mesmos.
Quando Mulan assumiu a essência verdadeira do seu próprio eu, alcançou o seu objetivo, atingiu a vitória desejada, superou todos os seus limites, descobrindo o caminho de sua própria honra.
Evandro Rodrigo Tropéia/ Instituto Freedom
CRP: 06/143949
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
JUNG. C.G, Memórias Sonhos e Reflexões. Ed. 2000