Você sabe diferenciar os estados de luto e melancolia? Descubra neste texto a diferença entre eles e veja a importância de cada uma destas etapas no processo de elaboração simbólica de dores.
O Luto
O Processo do Luto caracteriza-se no período posterior a perda de algo ou alguém de predominante importância, no qual o sujeito está intimamente e emocionalmente ligado.
Por isso, nesse período, ele se recolhe temporariamente em direção ao próprio eu (ego) no sentido de buscar a cicatrização da ferida que a presente dor lhe proporcionou. Ou seja, este processo deve ser conduzido com naturalidade, pois faz parte do curso vital.
O luto é um período de recolhimento, reflexão e principalmente acolhimento. Quando a perda que ocorreu no mundo externo foi acolhida pelo mundo interno, o sujeito inicia seu processo de expansão retornando ao mundo externo após esse período de recolhimento.
Admitir a perda daquilo que amava e ter consciência plena dessa perda leva a uma maturidade que faz com que ele se ele se volte novamente para o mundo externo de maneira segura e saudável.
O Processo do Luto é um período gradativo, ou seja, deve ser trabalhado e refletido aos poucos, sem bruscas interrupções. Além disso, este período deve ser vivenciado de forma intensa e encarado com profundo respeito.
A Melancolia
No estado da Melancolia, o processo ocorre inicialmente de maneira semelhante ao luto, porém com diferenças cruciais e decisivas.
Assim como no luto, na melancolia, também ocorre a perda e o sujeito também se recolhe no mundo interno. No entanto, o ego se torna enfraquecido, ocasionando o sentimento de que lhe fora arrancado um pedaço considerável. Ou seja, o melancólico apresenta seu ego como algo completamente enfraquecido.
No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio ego. (FREUD, 1917)
Na melancolia, o sujeito se coloca em um estado semelhante à morte, juntamente com o objeto perdido.
Por exemplo, uma forma de falar sobre a melancolia é através da música “Pedaço de Mim” de Chico Buarque:
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco.
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais
Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi
Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus
(Chico Buarque, Pedaço de Mim)
A importância da elaboração
Quando o sujeito se depara com a perda, o ego carrega em si próprio o peso dessa falta, ele não consegue reconhecer a perda e diante dessa incapacidade, torna-se difícil a cicatrização da ferida e o sujeito se encontra submergido a uma prisão melancólica.
Um desanimo profundamente penoso, a cessação da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade e uma diminuição de sentimentos de auto estima, a ponto de encontrar expressão em auto envilecimento, culminando numa tentativa delirante de punição (FREUD, 1917)
Sigmund Freud (1920), o pai da Psicanálise, entende que o luto é uma constelação de reações psíquicas conscientes e inconscientes onde há uma perda da libido que anteriormente era investida no objeto amado, porém não existe a perturbação da autoestima. (FREUD, 1920. p, 250), enquanto que na melancolia não há necessariamente uma morte e sim uma perda inconsciente do objeto de amor, levando o ego a um estado deplorável de pobreza da libido.
Dessa maneira, no estado melancólico, a perda do objeto se transforma na perda total do ego. (FREUD 1920. p, 255).
Texto escrito por Evandro Rodrigo Tropéia
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