Uma das transposições de linguagem utilizadas no processo arteterapêutico é a modelagem. Modelar é um caminho acertado para chegar ao bidimensional a princípio e posteriormente ao tridimensional. É uma forma assertiva de sair do papel e dar forma ao pensamento, num processo de reestruturação.
Ao citar o uso da modelagem em arteterapia abre-se um leque de opções que vai muito além do uso da argila.
O contato com o barro nem sempre é prazeroso, pois, por ser um elemento natural e de baixa temperatura, pode provocar desconforto no manuseio. Além disso, pode suscitar recordações da infância por proporcionar uma regressão à origem. Segundo a Bíblia, Adão foi feito do barro, por isso nos remete ao começo de tudo, a origem da vida, o que pode ser extremamente mobilizante esse contato, trazendo recordações de fases muito regredidas da infância. (BRASIL, 2013, p.137138).
A variedade de material que pode servir para modelagem é grande, vai desde biscuit, papel machê, massa de modelar escolar e industrializada até o uso de acordo com a nova realidade do atendimento on-line de massas caseiras, massas de biscoito dentre outras.
Ao modelar, o cliente observa a possibilidade de contatar uma produção com volume, com forma diferente da observada no desenho e conseguir com isto um diálogo diferente com o resultado obtido.
Muito embora o uso da modelagem pareça um fácil recurso e um meio de acessar conteúdos interiorizados, seu uso deve ser cuidadosamente observado pelo arteterapeuta.
A modelagem em Arteterapia só deve ser utilizada depois de algumas experiências no plano bidimensional, salvo em situações em que o cliente já inicie o processo trazendo experiências anteriores com a modelagem. Esta precaução deve-se ao fato que esta linguagem plástica oferece algumas dificuldades operacionais e inaugura as experiências no plano da tridimensionalidade, envolvendo desafios de organização espacial e capacidade de formar estruturas, e mantê-las em equilíbrio, além de intensificar a experiência com o tato, envolvendo sensações com texturas e relevos. (PHILIPPINI, 2013, p.72).
Normalmente o processo de elaboração pela modelagem é pouco mediado pela verbalização mas intenso nos resultados obtidos e contemplado pela riqueza de detalhes nos compartilhamentos de clientes que vivenciaram o modelar.
Silvia Quaresma
Arteterapeuta AATESP 665/0720
REFERÊNCIAS
BRASIL, Cláudia. Cores, Formas e Expressão, Rio de Janeiro, WAK Editora, 2013.
PHILIPPINI, Angela. Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia: uso, indicações e propriedades, Rio de Janeiro, WAK Editora, 2018.