A importância do rito – como a Páscoa – na contemporaneidade
“O significante é mais importante do que o que ele designa, ou seja, do que o significado, o conteúdo. (…) Ele brilha antes uma vez por si, independente da verdade, da coisa ou assunto que contém” (HAN, 2021, p. 105)
O sentido do rito da Páscoa
A semana da Páscoa é revestida por um simbolismo muito forte.
Antes de mais nada, comecemos analisando a etimologia da palavra “Páscoa”, perceberemos seu significado fundado no sentido de passagem que é normalmente associado à celebração da passagem do povo hebreu da escravidão para a liberdade e também ao sacrifício da Paixão de Cristo. (DICIONÁRIO ETIMOLOGICO)
O fato desta celebração ocorrer todos os anos, enfatiza o caráter ritualístico da data, sendo que o seu significado se estende para além da concepção judaico-cristã.
Um exemplo disso, está no livro “O mapa da alma”, Murray teoriza que Jesus de Nazaré corresponde a uma projeção de nossos próprios si- mesmos espirituais superiores (MURRAY, 2006).
Ou seja, com base nesta imagem, não seria difícil intuir que o significado da transformação e da ressurreição incorporados na Páscoa também provocariam um estado parecido em nosso interior.
O papel do rito na formulação do si mesmo
Segundo o filósofo Byung-Chul Han, a importância dos ritos está justamente nesta repetição, pois é uma forma de trazer um aspecto estabilizador para o nosso cotidiano.
Além disso, o símbolo que se exprime na Páscoa, de passagem, liberdade e ressurreição também é capaz de nutrir nossa singularidade. É a partir de eventos como este que passamos a evoluir e a adquirir um maior sentido existencial.
Esta celebração coletiva que envolve necessariamente o contato com o mundo externo, também propicia uma facilidade de criação de consciência, que se constitui justamente através de pontes.
O rito na contemporaneidade
Os ritos sempre estiveram presentes na história da humanidade, independente da época e da cultura. Assim, seu objetivo principal é o de representar e comunicar eventos significativos como celebrações e derrotas que mobilizavam sensações diferentes para o povo.
Na atualidade, vários ritos de passagem fazem parte do nosso cotidiano, como o nascimento, a adolescência, a formatura, o casamento e a morte. Enfim, cada um destes eventos representa a morte simbólica da fase anterior e o nascimento de uma nova etapa. (KOVACS, 1992).
No entanto, o filósofo afirma que estamos esvaziando os ritos de sentidos e transformando-os em meras comemorações que muitas vezes não são nem vinculas com uma comunidade.
Estamos perdendo a capacidade de simbolização porque já não temos tempo para sentir: o imediatismo nos faz viver sem permanecer e torna o fardo de nossas vidas muito pesado por estar sempre em busca de “algo a mais”.
Ou seja, para ele, a abertura para os ritos é uma forma de nos despirmos desta presença dominante de ego e mergulhados em uma comunidade. Assim experimentamos uma nova oportunidade para evoluir.
Que o rito de passagem que nos envolverá está semana também seja um convite para a sua passagem rumo ao seu inconsciente para uma ressurreição psíquica de muita criatividade e reencontro.
Equipe Freedom
REFERÊNCIAS
- KOVÁCS, M.J. Morte e Desenvolvimento Humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1992
- HAN, Byung-Chul. O desaparecimento dos rituais: Uma topologia do presente. Tradução de Gabriel Salvi Philipson. Petrópolis, RJ: Vozes, 2021