Pensar em setting terapêutico é sem dúvida ficar preso a definições clássicas, ao academicismo, ao tradicionalismo que prevê um local neutro, pintado com sobriedade e sem detalhes. Trata-se de um espaço no qual a relação paciente e terapeuta ou cliente e arteterapeuta acontece. Em ambas, a presença de um profissional apto e possuidor de uma escuta diferenciada encontrará um indivíduo disposto e encontrar novos caminhos.
O “setting” da arteterapia, com sua formatação de laboratório de alquimista, recria, nos tempos atuais, o tão necessário território sagrado. Funciona como local de criação, de resgatar e expandir potencialidades adormecidas, de desvelar sentimentos, de compreender conteúdos inconscientes. Para que seja produtivo, este território simbólico precisa, em sua materialidade, oferecer algumas condições operacionais essenciais.
(PHILIPPINI, 2013, p.39).
Além de enquadrar-se como “território sagrado”, o setting arteterapêutico assume caraterísticas próprias como a iluminação adequada para percepção acertada de cores, conforto para realização das propostas, e conta com variedade de material para produção. Este material precisa ser cautelosamente pensado e oferecido ao cliente, no atendimento individual ou em grupo sendo que neste a quantidade e diversidade precisam ser respeitadas.
O trabalho arteterapêutico compartilha a vida em seus movimentos de fuga e encontro, em suas mudanças e fluidez, e há que estar flexível para acompanha-lo de forma adequada. Que o “setting” de arteterapia possa funcionar, então, como um território sagrado da criação, um espaço acolhedor e flexível no qual, em meio às asperezas do cotidiano, abrem-se trilhas de entrada num espaço mítico de autodescoberta, lugar de gestar-se em sonhos e projetos. (PHILLIPINI,2013, p.41).
No entanto a situação mundial de saúde, a falta dela, a pandemia, derrubou os muros que protegiam o território sagrado. O setting definitivamente mudara de endereço, de manejo, de orientação. O espaço físico, acolhedor e flexível, deixou de existir e deu lugar a um espaço virtual, que não acolhia, que era frio. Surgia um novo enfrentamento e arteterapeutas e clientes buscaram novos aprendizados. A riqueza de material fora substituída pelo desafio de utilizar e reaproveitar o que se tinha em casa. A criatividade aparecia enfim como aliada nesta busca.
Novos tempos que nos fizeram descobrir que sagrado é onde o coração está. Que esta nova realidade que transformou o mundo, que formou grupos com participantes de outras cidades, de outros estados, que flexibilizou os horários de atendimento individual que ela possa continuar aliada a criatividade. Afinal, a criatividade salva.
REFERÊNCIAS
PHILIPPINI, Angela. Para entender Arteterapia: Cartografias da Coragem Rio de Janeiro, WAK Editora, 2013.
Texto escrito por Silvia Quaresma para o Instituto Freedom.
Silvia Quaresma
Arteterapeuta AATESP 665/0720