“Pensar em arteterapia sem movimento não me parece possível.
Como pintar, desenhar, modelar, colar, escrever, construir sem movimento?”
(ANGELA PHILIPPINI,2018, p. 130)
O presente texto é um convite à reflexão acerca do lugar que damos ao corpo no setting arteterapêutico, como instrumento de expressão simbólica. Quando nos referimos aos recursos expressivos e aos materiais artísticos utilizados nas práticas arteterapêuticas, rapidamente pensamos na colagem, pintura, desenho, modelagem. Embora seja reconhecida a primazia das artes visuais no trabalho arteterapêutico, é possível – e necessário – considerar também o corpo e a sua linguagem, como forma de expressão e comunicação do ser humano.
O movimento, os gestos e as experiências sensoriais, assim como as imagens, as palavras, os sonhos, são linguagens, caminhos diversos que os indivíduos encontram para expressar simbolicamente a subjetividade.
A filosofia, a psicologia, a medicina e outras tantas ciências, se ocuparam e ainda se ocupam dos estudos do corpo e da relação mente-corpo para abordar o ser humano. Superando o dualismo cartesiano mente-corpo, hoje em dia reconhecemos a integração dessas duas dimensões em nós e atribuímos ao corpo um papel importante no desenvolvimento psíquico. (SCHULTZ; SCHULTZ, 2009.)
“Tanto os processos biológicos quanto os psíquicos se processam no corpo, de forma que não se pode falar em corpo e mente separadamente. Ambos refletem-se um no outro mutuamente e o tempo todo. Nossa psique está registrada no corpo” (BAPTISTA, 2003, n.p)
Se partimos da ideia que mente-corpo é inseparável, cabe perguntarmos que lugar damos ao corpo no processo arteterapêutico?
É o mesmo sujeito, no mesmo corpo, onde as emoções são registradas e manifestas. Nascimento (2012, p. 33) explica que o corpo carrega aspectos conscientes e inconscientes. O corpo tem memória, e não só fala, também “escuta e elabora, pensa, simboliza, identifica sentidos, aquilo que de alguma forma tem valor para o indivíduo.”
Segundo Pereira (2011, p. 212) a linguagem corporal, espontânea, “torna-se um veículo extremamente sutil, sobretudo no lidar com processos inconscientes.”
O corpo está cheio de símbolos, gestos, movimentos e significados, que podemos aprender a ouvir, dar uma forma, uma cor no espaço arteterapêutico, permitindo enriquecer não só o repertório expressivo do sujeito, como também ampliar a percepção de si.
Referências Bibliográficas:
BAPTISTA, A. L. A expressão corporal na prática da arteterapia. Revista Imagens da Transformação, RJ, vol. 10, Pomar Ed., 2003. Disponível em: http://www.cebrafapo.com.br/menu/conferencias_e_artigos/pdfs/ART-AnaL-exp-corp.pdf. Acesso em: 02 jul. 2022.
NASCIMENTO, C. Dançar com Arteterapia. Tese (Programa de Pós-Graduação) – Universidade Cândido Mendes, Rio de Janeiro, 2012. Disponível em:http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/c207088.pdf. Acesso em: 02 jul. 2022.
PEREIRA, P. J. Reflexões sobre movimento e imagem. In: ZIMMERMANN, E. (org) Corpo e Individuação. 2. Ed. RJ: Ed. Vozes, 2011.p 205- 246.
PHILIPPINI, A. Linguagens e Materiais Expressivos em Arteterapia: uso, indicações e propriedades. 2 ed., RJ: Ed WAK, 2018.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 9a ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.