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Psicologia Analítica

A Função inferior nos contos de fadas

Publicado por institutofreedom 10 de setembro de 2016

Na obra Tipos Psicológicos, Carl Jung nos forneceu um sistema de orientação do ego que se baseia em sua relação com o mundo exterior e interior por meio das funções psíquicas (sensação, intuição, pensamento e sentimento) e das atitudes (introvertida e extrovertida).

As funções psíquicas foram divididas em dois grupos: racionais (pensamento e sentimento) e irracionais (sensação e intuição). As funções racionais, Jung classificou como julgativas e as irracionais funções apreciativas.

Todos nós em nosso desenvolvimento psíquico acabamos por desenvolver uma função, que passa a ser então, usada com maior facilidade pelo ego em seu manejo com o mundo. A essa função Jung deu o nome de função principal.

Mas esse desenvolvimento da função superior se dá à custa da repressão da função inferior, ou seja, aquela que é oposta à superior. Assim ocorre com todos nós, isso faz parte do nosso desenvolvimento como seres humanos. No entanto, em determinado momento da vida devemos olhar para ela e nos debruçar sobre qual o ensinamento ela tem para nos trazer.

Na formação da personalidade humana existe uma imensa gama de possibilidades de desenvolvimento, mas em geral desenvolvemos e formamos aquelas possibilidades que mais se adaptam ao meio ambiente. É uma forma arcaica de sobrevivência.

O homem é um ser gregário e que precisa se sentir pertencente e aceito.

Por exemplo, alguém que possui uma boa inteligência e que vive em um lar onde o racional e o estudo são valorizados irá desenvolver ainda mais seu intelecto. E mesmo que essa não seja sua tendência natural, irá desenvolver o intelecto para estar em consonância com esse ambiente. No entanto, a função oposta, o sentimento, ficará indiferenciada e arcaica. Essa pessoa excluirá as tendências sentimentais de suas escolhas.

Sobre a problemática da função inferior falei com mais detalhes em um texto anterior.

Aqui, nesse texto, quero comentar como a função inferior aparece nos contos de fadas e como os mesmos mostram caminhos para a aceitação e solução dessa parte da personalidade que fica encoberta pelo medo.

Alguns contos de fadas como As três plumas dos Grimm e A Czarina Virgem, o herói é uma figura desajeitada, é o filho mais jovem e desprezado pelo pai e irmãos.

Esses heróis desajeitados e inadaptados correspondem à função psíquica menos desenvolvida, ou seja, a inferior.

Outros contos onde o herói parece não estar adaptado a realidade do local, ou que não faz parte da corte e é alguém do povo e pobre, também mostram de forma menos clara a função inferior.

No conto de fadas Cinderela, também vemos a heroína como um símbolo da função inferior. A madrasta representa a função superior já desgastada e em mau funcionamento e as duas irmãs, como funções auxiliares da consciência, já não têm força para auxiliar o ego.

A estrutura então que se forma no conto é a seguinte: dois filhos são inteligentes e amados representando o fundamento básico para a construção das duas funções auxiliares no ser humano — e o filho mais novo, ou enteado, seria o Tolo representando a base da construção da função inferior. Contudo o Tolo não é somente isso, ele é também o herói, e toda a história está centrada nele (Von Franz, 2005).

O herói ou a heroína nessa estrutura é o mais novo(a) ou mais fraco(a), sendo sempre desprezado.

O fato de serem heróis significa que a função inferior desprezada é capaz de resolver problemas que a consciência não dá mais conta, liberando energia e um novo valor para a consciência do ego.

Em termos práticos essa é aquela situação, onde ficamos paralisados e não vemos solução para o nosso problema e tudo o que fazemos conscientemente dá errado. Os meios costumeiros e normais e agir não funcionam mais e nos sentimos impotentes e devemos lançar mão de uma atitude inusitada e estranha. É aquele momento em que fazemos justamente aquilo que dissemos que nunca iríamos fazer.

Temos que solucionar um problema com o nosso lado mais fraco e a vida acaba exigindo de nós uma nova atitude e forma de viver.

Um intuitivo, que possui dificuldade em lidar com o lado prático da vida e que vive no mundo das possibilidades, terá que olhar para o aqui e agora e assumir compromissos com a dura realidade.

Os contos de fadas podem então nos mostrar como transformar essa parte mais fraca, inadaptada e desprezada em herói ou heroína.

Geralmente os dois irmãos mais amados e mais hábeis não assumem a tarefa ou não conseguem realizá-la de forma consistente. Isso significa que quando precisamos desenvolver nossa função inferior as funções auxiliares só são capazes de alcançar o simples, trivial e habitual. Elas não são capazes de trazer o verdadeiro valor e o extraordinário.

Para isso precisamos ousar, transgredir, encontrar o inusitado em nossas vidas.

É importante também citar que alguns contos de fadas com essa estrutura deixam em aberto qual das quatro funções representa o herói ou a heroína e qual das atitudes vemos ali, se extrovertida ou introvertida. Isso significa que se trata de uma fôrma que será preenchida com a vida humana.

Cinderela por exemplo, se mantém introvertida, mas quando vai ao baile possui características extrovertidas, não deixando de forma clara qual a sua atitude mais habitual.

2016-09-10-cinderela

O conto então só documenta a questão fundamental e essencial do desenvolvimento da função inferior.

Mas isso não é uma regra, alguns mostram de forma mais clara qual é a função representada pelo herói.

O que é mais importante compreender então, é que o conto de fadas, traz uma infinita escala de possibilidades e vem sempre dizer algo ao homem, tocando profundamente em sua alma.

Conhecer o seu conto favorito, ou aquele com que se identifica mais pode colocar em movimento aquilo que ainda não pode se expressar.

Em momentos em que nos encontramos na encruzilhada e que não conseguimos solucionar problemas de forma costumeira, o conto pode nos auxiliar a trazer o inusitado e o diferente. Ele nos ensina que o que estamos desprezando em nós é justamente aquilo que precisamos para modificar a nossa vida.

Texto: Hellen Reis Mourão.

Referências bibliográficas:
DIECKMANN, H. Contos de fadas vividos. São Paulo: Paulinas, 1986.
VON FRANZ, M. L. A interpretação dos contos de fada. 5 ed. Paulus. São Paulo: 2005.

A Função inferior nos contos de fadas was last modified: abril 13th, 2023 by institutofreedom
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