Alguns autores citam o Marquês de Sade como precursor de promover um modo de expressão que pudesse tirar os enfermos do seu estado de alienação. Entre 1803 e 1813 teria dirigido os espetáculos mensais na casa de saúde Charenton. No final do século XIX, o teatro era recomendado para os enfermos mentais porque podiam sair da apatia e recolhimento do seu mundo íntimo. Em 1876, Max Simon, médico psiquiatra, publicou pesquisas sobre manifestações artísticas mentais e fez uma classificação das patologias segundo essas produções.
No início do século XX, Freud se interessou pela arte e postulou que o inconsciente se manifesta através de imagens, que transmitem significados mais diretamente do que as palavras. Ele observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente na produção artística, retratando conteúdos do psiquismo que, para ele, é uma forma de catarse. No entanto, o primeiro a utilizar a expressão artística em consultório foi Carl Gustav Jung. Para ele, a simbolização do inconsciente individual e do coletivo ocorre na arte. Na década de 20, do século passado, recorreu à linguagem expressiva como forma de tratamento e, para tanto, pedia aos clientes que fizessem desenhos livres, imagens de sentimentos, de sonhos, de situações conflituosas ou outras. Priorizava a expressão artística e a verbal como componentes de cura. Jung afirmou que a criatividade tem uma função psíquica natural, estruturante e a atividade plástica e a criatividade são funções psíquicas inatas que contribuem com a evolução da personalidade e com a estruturação do pensamento.
Em 1945, Adrian Hill utilizou pela primeira vez o termo arteterapia no livro intitulado Art versus Illness (Arte contra enfermidade) que havia começado em 1938, quando estava convalescente em um sanatório depois de ter contraído tuberculose. Hill percebe que a atividade artística o ajuda a recuperar-se e após a sua recuperação, o médico solicita a sua ajuda para que outros pacientes desenhem. Esse fato marca a mudança na sua vida, rumo à atividade de arteterapia.
Em 1947, publica-se o estudo da educadora norte-americana Margaret Naumburg (Free Art Expression of Behaviour Disturbed Children as a Means of Diagnosis and Therapy). Margaret Naumburg é considerada uma das fundadoras da arteterapia nos Estados Unidos, junto com Edith Kramer e Marie Petrie.
No Brasil, o precursor teria sido Ulysses Pernambucano, que estabeleceu relações entre Arte e Psiquiatria e inspirou Silvio Moura a redigir, em 1923, “Manifestações artísticas nos alienados”, trabalho conclusão do curso de Medicina. O segundo nome foi de Osório César que trabalhou com arte no hospital do Juqueri (Franco da Rocha – SP). Sob a influência da psicanálise freudiana publicou “A arte primitiva nos alienados”. É relatada a existência, desde 1927, de setores de bordados e outros tipos de artesanato nos pavilhões e colônias do hospital, além de haver a possibilidade de realizar pintura com aquarela, modelagem em barro, dentre outras que necessitavam de ambiente, material e técnica no citado hospital.
Por fim, tem-se o trabalho de Nise da Silveira que fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional, em 1946 no Centro Psiquiátrico Engenho de Dentro. Esta psiquiatra tinha sua compreensão baseada na Psicologia Analítica (Jung). A Arteterapia teve seu início com a atuação de Margarida Carvalho, cuja formação no campo se deu a partir de um curso de extensão em Arteterapia com Hanna Kwiatkowska na PUC-SP, em 1964. Seguiu seus estudos de forma independente, com atuação posterior na área. Pode-se também citar Ângela Philippini, que recebeu influência de Nise da Silveira e participou de grupo de estudos com arteterapeutas americanos e Selma Ciornai, com formação a partir de cursos de extensão no país e mestrado em Arteterapia nos Estados Unidos.
Em 1973 é inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, no Centro psiquiátrico nacional do Rio de Janeiro, o maior hospital psiquiátrico do Brasil, a cargo da doutora Nise da Silveira, responsável pelas atividades de reeducação profissional.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
A formação em Arteterapia no Brasil: contextualização e desafios. Textos do III Fórum Paulista de Arteterapia da AATESP. Disponível em: < http://newpsi.bvs-psi.org.br/eventos/AnaisIII-ForumPaulistaArteterapia.pdf> Acesso em: 09 de outubro de 2022.
MARIÁN, López Fernández Cao. Breve historia del Arteterapia. Disponível em:<https://extension.uned.es/archivos_publicos/webex_actividades/4786/02historiadelarteterapia.pdf > Acesso em 09 de outubro de 2022.
SANTESSO, Wilma Antonia Nubiato. Técnicas de oficinas expressivas: a arte como forma de ressignificação. São Paulo: edição do autor, 2015.
Texto escrito por Fátima Mattiolo para o Instituto Freedom
Arteterapeuta – AATESP nº 513/0719