Na análise junguiana a visão simbólica tem um lugar de destaque para a compreensão do outro e da psique. Podemos enxergar os símbolos naturais, que seriam os oriundos da psique inconsciente, e que se explorados e aprofundados revelam inúmeras relações com imagens arquetípicas primordiais, incluindo referências à tribos e locais diversos e antigos, outras civilizações. Também há os símbolos que contém um caráter numinoso, seriam aqueles ligados à ritos, crenças e religiões. Esses símbolos que têm uma carga numinosa significativa, cujo peso e relação eram bem diferentes da maneira com que nos relacionamos com eles hoje, sofreram grandes transformações ao longo dos anos e das civilizações.
A sociedade hoje tende a agir racionalmente com relação à esses símbolos. É comum a postura em negá-los e rejeitá-los, contudo, esses elementos simbólicos fazem parte da nossa estrutura psíquica, e ao suprimi-los jogamo-los ao inconsciente, perdendo assim ricas possibilidades de integração e ampliação da consciência. Essa energia que é relegada ao inconsciente continua viva, mas aí já não temos mais poder sobre ela, nem sabemos de fato à o que ela está realmente alimentando.
Esses conteúdos irão compor parte da “sombra, sempre presente e potencialmente destruidora. Mesmo aquelas que poderiam, em certas circunstâncias, exercer uma influência benéfica, são transformadas em demônios quando reprimidas. É por isso que muita gente bem-intencionada tem um receio bastante justificado do inconsciente e, incidentalmente, da psicologia” (JUNG, 2016, p 118).
Nesse sentido, o exercício desmedido e unilateral do racionalismo acarreta uma destrutividade em âmbitos essenciais da vida.
O homem moderno não entende quanto o seu “racionalismo” (que lhe destruiu a capacidade de reagir a ideias e símbolos numinosos) o deixou à mercê do “submundo” psíquico. Libertou-se das “superstições” (ou pelo menos pensa tê-lo feito), mas nesse processo perdeu seus valores espirituais em escala positivamente alarmante. Suas tradições morais e espirituais desintegraram-se e, por isso, paga agora um alto preço em termos de desorientação e dissociação universais. Os antropólogos descreveram, muitas vezes, o que acontece a uma sociedade primitiva quando seus valores espirituais sofrem o impacto da civilização moderna. Sua gente perde o sentido da vida, sua organização social se desintegra e os próprios indivíduos entram em decadência moral. Encontramo-nos agora em condições idênticas. Mas na verdade não chegamos nunca a compreender a natureza do que perdemos, pois os nossos lideres espirituais, infelizmente, preocuparam-se mais em proteger suas instituições do que e entender o mistério que os símbolos representam. Na minha opinião, a fé não exclui a reflexão (a arma mais forte do homem); mas, infortunadamente, numerosas pessoas religiosas parecem ter tamanho medo da ciência (e, incidentalmente, da psicologia) que se conservam cegas a essas forças psíquicas numinosas que regem, desde sempre, os destinos do homem. Despojamos todas as coisas do seu mistério e da sua numinosidade; e nada mais é sagrado (JUNG, 2016, p 118).
Referências bibliográficas
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. Org. Carl Gustav Jung. Trad. Maria Lúcia Pinho – 3. Ed. – Rio de Janeiro: HarperColins Brasil, 2016
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347