A vida de Jung pode ser contada de forma cronológica, com seus fatos e realizações exteriores; assim como também com o desenvolvimento de sua teoria através da influência de suas experiências interiores. .
A maneira pela qual Sonu Shamdasani fala sobre quem foi Jung é autêntica, como o próprio Jung em questão. Vale a pena entrarmos em contato com algumas informações fundamentais, como a que ele, Shamdasani, cita que já com idade avançada, “Jung escreveu uma memoir intitulada “Sobre as experiências mais antigas de minha vida”, que foi subsequentemente incluída em Memórias, Sonhos, Reflexões, em formato intensamente editado” (SHAMDASANI, 2009, p 194).
Shamdasani nos brinda com informações até antes não bem reconhecidas pelo grande público. Eu mesma fui apresentada ao livro Memórias, Sonhos, Reflexões como sendo a autobiografia de Jung. Não que esse livro não contenha informações e experiências valiosas, mas acontece que esse livro foi extremamente editado, e acabou sendo uma das grandes causas para que Jung fosse erroneamente interpretado e até visto como alguém místico, esotérico.
Essa memoir de Jung, que Shamdasani nos fala, contém visões, fantasias e sonhos, que podem ser vistos como sendo a introdução do Liber Novus.
No primeiro sonho, ele se encontrava numa campina com um buraco de pedras alinhadas, no chão. Encontrando uma escada, ele desceu para dentro do buraco e encontrou-se numa câmara. Ali havia um trono dourado, e o que parecia um tronco de árvore com pele e carne, com um olho no topo. Ele então ouvia a voz de sua mãe dizer que este era o “comedor de homens”. Ele não tinha certeza se sua mãe queria dizer que esta figura de fato devorava crianças, ou era idêntica a Cristo. Isso afetou profundamente sua imagem de Cristo. Anos mais tarde ele percebeu que essa figura era um pênis e, ainda mais tarde, que era de fato um falo ritual, e que o cenário era um templo subterrâneo. Ele veio a entender esse sonho como uma iniciação “nos mistérios da terra”. Em sua infância, Jung experimentou algumas alucinações visuais. Parece que também tinha a capacidade de evocar imagens voluntariamente. Num seminário, em 1935, ele se lembrou de um retrato de sua avó materna que ele costumava olhar quando menino até que “viu” seu avô descendo as escadas (SHAMDASANI, 2009, p 194).
Compreendendo a psicologia analítica, podemos entender como esses sonhos e visões diziam respeito às representações simbólicas inconscientes, tanto pessoais quanto coletivas. Mas só podemos compreender isso ao tomar consciência desse tipo de conhecimento e visão. Imagine o quão chocante era para ele mesmo entrar em contato com essas imagens e se permitir investigá-las.
Uma das visões mais famosas e difíceis que Jung teve foi quando ele tinha doze anos.
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Referência bibliográfica
Shamdasani, Sonu. Introdução para O Livro Vermelho: Liber Novus. Trad. Gentil A. Titton e Gustavo Barcelos. Petrópolis: Vozes, 2009.
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347