Quando nos propomos a investigar o ser humano na clínica, percebemos que estamos diante de muito mais do que esse próprio indivíduo que se apresenta para nós. Estamos diante de um ser que é fruto de uma história pessoal e coletiva, e que a união desses significados vivem em seu universo simbólico.
É sobre esse universo dos símbolos dentro do ser que o terapeuta vai se debruçar, buscar compreender, trazer à consciência.
O homem moderno é, na verdade, uma curiosa mistura de características adquiridas ao longo de uma evolução mental milenária. E é desse ser, resultante da associação homem-símbolos, que temos de nos ocupar, inspecionando sua mente com extremo cuidado. O ceticismo e a convicção científica coexistem nele, juntamente com preconceitos ultrapassados, hábitos de pensar e sentir obsoletos, erros obstinados e uma ignorância cega. São esses seres humanos, nossos contemporâneos, os produtores dos símbolos que cabe a nós psicólogos, investigar (JUNG, 2016, p 121).
Assim como para compreender melhor a vida de alguém é importante conhecer seu universo simbólico, fundamental é discernir quais símbolos expressam questões particulares da vida desse indivíduo e quais símbolos podem estar relacionados à expressões de significados coletivos.
Para explicar esses símbolos e o significado deles, é vital estabelecermos se as suas representações acham-se ligadas a experiências puramente pessoais ou se foram particularmente escolhidas pelo sonho de uma reserva de conhecimentos gerais conscientes (JUNG, 2016, p 121).
Ao investigar os objetos do sonho, por exemplo, os conteúdos que aparecem têm o contexto imbuído pelo universo do sonhador. Uma coisa pode ganhar um caráter mais forte, de superstição, de sorte, azar, de prazer, de surpresa ou de desgraça dependendo de como o sujeito vê aquele símbolo. Como esse símbolo existe na história dele faz bastante diferença na interpretação.
Tomemos como exemplo um sonho em que figure o número 13. A primeira questão é saber se quem sonhou acredita no caráter agourento do número ou se o sonho refere-se apenas a pessoas que ainda têm essa superstição. A resposta faz grande diferença para a interpretação. No primeiro caso será preciso levar em conta que o individuo está ainda sob a magia do 13 agourento e, portanto, vai sentir desconforto se hospedado no quarto número 13 de um hotel, ou sentando-se à mesa com 13 pessoas. No último caso, o 13 não significará, talvez, nada mais que uma observação descortês ou agressiva. O sonhador supersticioso ainda sofre a magia do 13, o sonhador mais “racional” já despiu o 13 da sua tonalidade emotiva original (JUNG, 2016, p 121).
Referências bibliográficas
JUNG, Carl. O homem e seus símbolos. Org. Carl Gustav Jung. Trad. Maria Lúcia Pinho – 3. Ed. – Rio de Janeiro: HarperColins Brasil, 2016
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347