A Psicologia Analítica defende a ideia de que o Homem deve ser analisado como um todo. Essa totalidade presente em cada ser humano é dividida em quatro valorosas dimensões, segundo Melgoza (2009):
- Dimensão Psíquica;
- Dimensão Espiritual;
- Dimensão Física;
- Dimensão Social.
Conforme os estudos desenvolvidos pelo psicólogo Dr. Julian Melgoza (2009), a dimensão psíquica envolve os conteúdos conscientes, inconscientes pessoais e coletivo do psiquismo. As questões da religião, da religiosidade e da crença da existência de um ser superior que nos move, consistem na dimensão espiritual que é inerente ao ser humano. A dimensão física abrange pontos significativos como a saúde corporal e a busca por uma qualidade de vida. O equilíbrio da mente e a construção de pensamentos nos remete a compreensão da dimensão mental do ser humano.
Na realidade é a mente, que consiste na consciência que o ser humano tem de si mesmo e da própria vida que vai modelar a qualidade do corpo, da organização energética e a qualidade da evolução da alma como um todo (MELGOZA, 2009).
De acordo com Sabbag (2006), a religião nos remete ao termo “religar”, ligar de novo, e consiste na crença da existência de uma força ou forças sobrenaturais, manifestando essa crença através de rituais específicos.
Segundo Carl Gustav Jung (1990), a religião constitui uma das expressões mais antigas e universais da alma humana, subentende-se que todo tipo de Psicologia que se ocupa da estrutura psicológica da personalidade deve pelo menos constatar que, a religião, além de ser um fenômeno histórico-social, é também assunto de extrema importância para grande número de pessoas.
A religião exerce grande influência na dimensão psicológica, deixando de ser apenas um apanhado de regras, um conjunto de mandamentos e leis, mensagens de otimismo, esperanças e princípios eternos que ligam supostamente o ser humano a Deus ou a um ser superior, para ser um instrumento de grande valor para a formação do indivíduo enquanto ser “social” (SABBAG, 2006).
A partir das ideias de Carl Gustav Jung (1978), podemos concluir que dessa forma, a Fé – o ato de crer em alguém ou algo – não se baseia apenas somente no sentido espiritual, onde o objetivo da religião é proporcionar a “salvação” para a alma, mas também nos desenvolvimentos do humano enquanto ser social, moral, físico e mental.
Jung (1978), afirma que não existe experiência possível sem uma consideração reflexiva, pois esta experiência constitui um processo de assimilação, sem o qual não há compreensão alguma, ou seja, a experiência é o fruto do processo de reflexão.
A religião é considerada por Carl Gustav Jung uma função psicológica cujo objetivo principal é compreender a relação do ego com o self, que pode ser comparada com a relação entre o humano e o divino (Homem e Deus) (SILVEIRA, 1981).
Conforme os estudos elaborados por Nise da Silveira (1981), uma das grandes descobertas de Jung se refere à máxima de que na maioria de seus casos clínicos, a cura foi alcançada através de experiências religiosas de qualquer espécie.
Segundo Jung (1978), o termo religião não nos remete a nenhuma denominação ou instituição de forma específica, mas sim o contexto da espiritualidade que é verdadeiramente expressa no contexto da religiosidade vivida pela pessoa em si.
Jung (1978), nos aponta que as ações religiosas são inerentes a todo ser humano esteja ele adepto ou não a alguma crença, ou seja, a religião está por natureza inseparavelmente ligada ao ser humano.
Os símbolos, cultos e rituais da religião em si, carregam uma função transcendente com o objetivo de unir os conteúdos conscientes e inconscientes do psiquismo humano. Através dessa linha de pensamento é possível chegar ao ponto máximo da Psicologia Analítica Junguiana: A Individuação (JUNG, 1990).
Segundo Hall e Norbdy (1980), a individuação é um processo onde o ser humano passa de um estado infantil de identificação para um estado maior de diferenciação, que leva a uma ampliação da consciência. Pelo caminho da individuação, o indivíduo se identifica menos com os valores impostos pelo meio social e passa a ter mais identificação com o self (si mesmo), a totalidade.
Para Jung (1990), a conscientização dessa totalidade é a principal meta do desenvolvimento do psiquismo. Devemos buscar essa individuação, essa iluminação através do processo do autoconhecimento.
Um dos passos necessários para a individuação é a assimilação das quatro funções psicológicas definidas por Jung (2013):
- Sensação;
- Pensamento;
- Intuição;
- Sentimento.
Carl Gustav Jung (1990) aplica o termo “numinoso” para compreender o aspecto psicológico da religião em si:
[…] existência ou fato dinâmico não causados por um ato arbitrário. Pelo contrário, o efeito se apodera e domina o sujeito humano…Qualquer que seja sua causa, o numinoso constitui uma condição do sujeito, e é independente de sua vontade. (p.65).
Para Jung (1990), o numinoso pode ser uma propriedade de um objeto visível, ou um influxo de uma presença invisível, que produzem de fato uma modificação especial na consciência. Em muitos casos, esse fator da numinosidade se aplica a um termo de muito destaque em relação à religiosidade e as manifestações da fé, denominado processo de conversão.
Portanto, de acordo com Jung (1978), o termo religião designa a atitude particular de uma consciência transformada pela experiência do numinoso.
Evandro Rodrigo Tropéia / Instituto Freedom
CRP: 06/143949
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
JUNG, C.G., Estudos Alquímicos, Petrópolis: Vozes, 1990.
Psicologia e Religião. Obras completas de C. G. Jung, v. 11/1. Vozes, Petrópolis, 1978.
Tipos Psicológicos. Obras completas de C. G. Jung. Vozes, Petrópolis, 2013.
SABBAG, D.C. Dicionário Bíblico. Um guia de estudos e entendimento do livro dos livros, Difusão Cultural do Livro, São Paulo, 2006.
SILVEIRA, N. Jung: vida e obra / Nise da Silveira – 7- ed.– Rio de Janeiro Paz e Terra, 1981.
HALL C.S. e NORDBY V. J. Introdução à Psicologia Junguiana, São Paulo, Cultrix, 1980.
MELGOZA, J. Mente Positiva: Como desenvolver um estilo de vida saudável / Julian Melgosa: Tradução Lucinda dos Reis Oliveira – Tatuí – SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009.