Fechar-se dentro de casa, evitar o contato social, voltar-se mais para dentro de si mesmo. Isso tem sido a realidade de muitas pessoas ao redor do mundo. Um tempo nada fácil de se viver.
E como o olhar junguiano pode auxiliar quanto a isso? Basta considerar a questão dos opostos. Onde há um lado que aparece, seu oposto também está presente. Se nos deparamos com grandes limitações, dores e perdas, o oposto disso, a oportunidade para uma abertura, sentir alegria e obter conquistas está presente. Como é o lado de fora que está impondo essa limitação: o mundo, o vírus. É do lado de dentro que você pode obter essa expansão.
Interessante observar como em grandes histórias de mestres da humanidade encontramos acontecimentos que falam de sofrimento, de jornada e de sucesso. Situações em que esses seres fecharam-se dentro de si mesmos para poder mergulhar em outros mundos, mais profundos, e com isso contribuir profundamente compartilhando lições de evolução e desenvolvimento para a humanidade.
A psicologia junguiana volta-se para esse processo principalmente quando fala da individuação.
Já que estamos vivendo um momento que exige tanto de nós, da comunidade global, isso pode ser visto como oportunidade, de voltar-se para dentro de si e buscar esse processo.
A individuação é um processo muito dinâmico e contínuo, envolve a tendência inata de um ser humano tornar-se quem se é, com consciência. Essa tomada de consciência, segundo a perspectiva junguiana seria uma das maiores contribuições que o ser humano pode dar ao universo.
Esse processo é complexo e profundo, envolve partes do ser que não se limitam à psicologia desenvolvimentista ou à qualquer outra que tenha como fim ou mapa um objetivo único e específico.
Stein (2020, p. 13) fala sobre isso:
Na psicologia junguiana, o processo de individuação não se restringe a uma descrição básica do modo como um indivíduo toma forma e substância ao longo da infância e da juventude, vivenciando então essa personalidade construída na idade adulta. Essa construção é praticamente o acúmulo de formações biogenéticas e psicogenéticas e de influências culturais. Limitada a isso, a individuação quase se identificaria com a filosofia do individualismo. Mas não; a individuação impele a consciência e a autorrealização para além do limiar em que os processos de desenvolvimento normal regulados pelos genes, pela psique e pela sociedade cessam de atuar. Na verdade, de várias maneiras, ela é o exato oposto do individualismo, apesar de poder assemelhar-se a ele nos estágios iniciais e de conter alguns dos seus aspectos. […] a individuação é uma disciplina psicológica que exige a participação integral da pessoa consciente para fazê-la progredir. Em essência, ela procura levar o ego-consciência para fora e para além de suas características e hábitos pessoais estabelecidos e de atitudes culturais assimiladas (isto é, caráter e “personalidade”), objetivando um horizonte muito mais amplo de autocompreensão e plenitude, um horizonte que é impessoal e beira o que muitas vezes chamamos de anima mundi. A individuação produz uma extensão da consciência que vai além do pessoal e alcança o arquetípico ou não pessoal.
A psicoterapia junguiana favorece esse processo, bem como seus estudos. Aprofunde seu processo se já estiver, ou inicie, pois agora é o momento.
Referência Bibliográfica
STEIN, Murray. Jung e o caminho da individuação: uma introdução concisa. Trad. Euclides Luiz Calloni – São Paulo: Cultrix, 2020
Texto: Alessandra M. Esquillaro – CRP 06/97347