Pela perspectiva da Psicologia de Carl Gustav Jung podemos compreender os deuses e os personagens da mitologia, como imagens arquetípicas, metáforas, expressões simbólicas do comportamento e da psique humana.
Em “O Nascimento da Tragédia”, obra do filósofo Friedrich Nietzsche, o autor nos apresenta os padrões apolíneos e dionisíacos. Nos elementos relacionados com o deus Apolo, os princípios apolíneos; nos elementos relacionados com o deus Dioniso, os princípios dionisíacos. Nos aspectos apolíneos temos as características de razão, ordem, medida, número e limitação, subjuga o selvagem e indomado.
Nos aspectos dionisíacos – libertação dos instintos, irrupção da força dinâmica, natureza animal e divina; a destruição, ao mesmo tempo ;“feliz êxtase” de que seja destruído, a embriaguez. (NIETZSCHE, 1781 IN JUNG OC VOL )
Desta maneira, Apolo e Dioniso formam par um com o outro e nesta parceria geram a obra de arte, a um tempo dionisíaca e apolínea
Os deuses também representam os estados psicológicos ; sonho- apolíneo, embriaguez- dionisíaco. (JUNG OC VOL VI § 207)
Em sua obra Tipos Psicológicos, Jung descreve Nietzche como um tipo introvertido intuitivo e profundo conhecedor de seus aspectos dionisíacos.
Os aspectos apolíneo e dionisíaco, são relacionados com os tipos estéticos (irracionais- sensação e intuição) em oposição aos tipos racionais(pensamento e sentimento), ambos extrovertidos e introvertidos. Jung também aponta que na reconciliação do Apolo délfico com Dioniso temos o símbolo da reconciliação dos opostos da psique(JUNG OC VOL VI § 207).
Apolo é o deus sol, distante, estilo de consciência ligado com a retidão de caráter, precisão, foco. É o deus do Oráculo de Delfos, a inscrição no templo “conhece-te a ti mesmo”, é uma máxima de suma importância, relacionada com o autoconhecimento e com o desenvolvimento da consciência. A inteligência, a ciência, a sabedoria são consideradas modelos divinos, concedidos pelos deuses, em primeiro lugar por Apolo. A serenidade apolínea tornou-se modelo para os gregos, a celebração do “nada em demasia”, emblema da perfeição espiritual.
Dioniso é o deus da transformação, do êxtase, do entusiasmo, deus da loucura, do vinho, da embriaguez, do teatro. É o deus da metamorfose, nos ensina ou obriga a nos tornarmos diversos do que somos normalmente, a experimentar nesta vida, neste mundo a fuga para uma estranheza desconcertante. Não consigo permanecer o mesmo se eu não incorporar o outro que habita em meu ser. O deus da loucura questiona a ordem humana e social, ele a faz despedaçar-se ao se revelar. Não regular, estável e definido. Está além de todas as formas, escapa de todas as definições. Embaralha as fronteiras entre o real e o fantástico. Dioniso é o deus que morre e ressurge das cinzas, o que é despedaçado e volta a viver transformado, expressão simbólica da individuação.
Podemos perceber que ambos os aspectos apolíneos e dionisíacos, estão presentes no comportamento e no psiquismo humano, independentemente da época, cultura ou gênero. O que constatamos muitas vezes é que nos identificamos unilateralmente mais com um ou outro princípio. A integração entre os opostos, simbolicamente representada pela reconciliação dos dois deuses irmãos, é algo subjetivo e particular.
Desta forma, Carl Gustav Jung nos diz que:
- Exigências e necessidades não são iguais para todos.
- O que para uns é salvação, para outros é prisão. (JUNG,OC VOL XVI/1 § 161)
E você ? Como lida com os aspectos apolíneos e dionisíacos? Se identifica mais com as características apolíneas ou dionisíacas?
Conta aqui pra gente nos comentários!
Rangel Fabrete/ Instituto Freedom
CRP 06/ 77.328
REFERÊNCIAS:
BARCELLOS, G. Mitologias Arquetípicas. Petrópolis. Vozes. 2019
BRANDÃO, J.S. Mitologia Grega VOL II . Petrópolis. Vozes. 1987
JUNG C.G Tipos Psicológicos. OC VOL VI. Petrópolis. Vozes. 2013
_________, A Prática da Psicoterapia OC VOL XVI/1. Petrópolis. Vozes. 2013
VERNANT, J. P. Mito e Religião na Grécia Antiga. São Paulo. WMF-Martins Fontes.2006
VERNANT, J. P. A Morte nos Olhos: A figura do Outro na Grécia Antiga. São Paulo. WMF-Martins Fontes.2010